João Miguel Tavares: “Tracem um paralelismo entre a democracia e o Estado Novo. Vão assustar-se quando perceberem as semelhanças”
Conhecido cronista, comentador político e pai de quatro filhos, João Miguel Tavares nasceu em Portalegre pouco antes da Revolução, em 1973. Neste episódio do podcast Geração 70, aponta a falta de qualidade dos atuais líderes políticos portugueses e assume-se centrista. “Eu não sou de direita, sou um centrista radical. Quero políticas moderadas, mas que aconteçam com grande intensidade”, diz. Oiça aqui a conversa com Bernardo Ferrão
Corte de cabelo “à tigela”, “cara redonda” e tantas vezes “sozinho a inventar brincadeiras”: assim era João Miguel Tavares nos seus primeiros anos. No tempo em que passava as férias grandes na quinta dos avós em Portalegre, o sítio onde - diz - foi mais feliz.
Os pais eram funcionários públicos, de uma classe média que “vivia bem” a trabalhar para o Estado. Aliás, o Estado, que hoje João Miguel Tavares critica pelo peso excessivo e mau funcionamento, teve um papel “fundamental" na sua vida e na família.
“Sempre esclareci que sou filho desse Estado, andei sempre em escolas públicas, hospitais públicos,etc. Essa rede de segurança é fundamental”. "Existe muito a ideia de que quem é de direita é a partida contra o Estado o que me parece uma visão bastante infantil", remata.
Jose Fernandes
Adolescente “tímido e recatado”, sem sucesso com as “miúdas”, refugiava-se na leitura.
Casou com a primeira namorada (“muito acima da minha Liga”, confessa) e tem quatro filhos. Vivem numa casa “cheia de jornais e livros”, mas recusa os “proselitismos” na educação dos filhos. “Não são os livros que salvam as pessoas ou salvam o mundo. As pessoas podem ser umas grandes leitoras mas ao mesmo tempo umas grandes bestas.”
Jose Fernandes
Sempre que regressa à cidade onde cresceu percebe que “Portalegre era mais povoada nos anos 80 do que agora”. “Há uma desilusão geral do país consigo próprio, e isso tem muito a ver com a história do elevador social.”
Crítico assumido da “elite lisboeta" defende que Portugal já teve “a coisa” pela qual fez sentido “caminhar”.
“Na Democracia lutámos para entrar na Comunidade Europeia, depois para entrar para o pelotão da frente do Euro e, de repente, entrámos no Euro e, pumba, parece que nos últimos 20 anos não estamos a lutar por nada”
Jose Fernandes
No capítulo da política aponta à “hegemonia do PS, historicamente uma opção perigosa”, à “erosão do PSD" e à "queda da qualidade dos seus lideres e quadros". E sobre o Chega, uma certeza: “vão-me desculpar, André Ventura diz as coisas mais bárbaras, mas é falso que o Chega seja um partido antidemocrático.”
João Miguel Tavares é o mais recente convidado do Podcast “Geração 70”. Numa conversa com Bernardo Ferrão, o cronista e comentador político fala sobre a infância, a família, a desertificação do interior e claro de política: “Essa ideia de quem vem aí um novo Salazar… não, não vem um novo Salazar”.
Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.