Entre Deus e o Diabo

O Fura-Vidas: de escritor erótico ameaçado à criação da estrela do Benfica na CMTV. Oiça aqui o 5.º episódio do podcast Entre Deus e o Diabo

André Ventura ascendeu enquanto foi abordando as pessoas certas. Escreveu dois romances com passagens pornográficas e diz ter sido ameaçado de morte quando escreveu 'A Última Madrugada do Islão', que tinha cenas de sexo do profeta Maomé com uma esposa de 15 anos. Quis escrever as biografias de Fernando Seara e de Luís Filipe Vieira e chegou a ter 200 páginas sobre política, sem radicalismo, para um livro a meias com o ex-ministro do PSD Rui Gomes da Silva, projeto que ficou na gaveta. Neste episódio confessa querer acabar a vida num mosteiro. O jornalista Octávio Ribeiro, ex-diretor do “Correio da Manhã” e da CMTV, reconhece que, “se não fosse o ‘CM’ e a CMTV, André Ventura teria de ter encontrado outros caminhos. Ou seja, “nós criámos esta figura”, reconhece. Afastou-o da Cofina já como líder do Chega por causa das posições racistas e xenófobas, e conta que foi difícil convencê-lo a ser comentador pelo Benfica. Saiba porquê no 5º episódio de ‘Entre Deus e o Diabo, como André se fez Ventura’

O jornalista Octávio Ribeiro, ex-diretor do “Correio da Manhã” e da CMTV, reconhece em declarações reproduzidas no 5.º episódio do podcast “Entre Deus e o Diabo” (pode ouvir no QR Code em baixo) que, “se não fosse o ‘CM’ e a CMTV, André Ventura teria de ter encontrado outros caminhos. Nós criámos esta figura”, admite, apesar de ressalvar que, antes de fundar o Chega, o radicalismo “não era visível” nas suas intervenções. O líder do Chega foi colunista e comentador do grupo Cofina — sobre casos judiciais e futebol — entre 2014 e 2020, onde ganhou a notoriedade que lhe valeu ser escolhido, em 2017, como candidato do PSD à Câmara de Loures.

A Cofina havia de cortar com o líder do Chega em maio de 2020. A razão para dispensar Ventura foram declarações racistas e xenófobas, explica pela primeira vez Octávio Ribeiro de viva voz: “Como líder do projeto do ‘CM’ e da CMTV, entendi que não era compatível a atuação política e o que dizia André Ventura e o seu lugar” no jornal e na televisão do grupo. “Houve um momento muito desagradável, que foi mandar calar o Quaresma, numa querela com a etnia cigana, mandar a Joacine para África e dar uma entrevista a dizer que não defendia a pena de morte, mas não o chocava. E tudo isso eram linhas vermelhas em qualquer projeto que eu liderasse”, conta o antigo diretor-geral da Cofina.

Até chegar a comentador televisivo, Ventura publicou dois livros e um deles, “A Última Madrugada do Islão”, foi lançado envolvido em polémica, por o autor dizer ter recebido alegadas ameaças de fundamentalistas islâmicos. Nessa época, foi anunciado que o sheik Munir, líder da comunidade islâmica de Lisboa, teria dado um parecer sobre o conteúdo ofensivo do livro para o Islão. O autor faria um lançamento com segurança. Mas o editor não se recorda do caso, o sheik Munir não se lembra do livro, e João Villalobos, coapresentador da obra, diz que mantém um “ceticismo saudável” sobre a história das ameaças.

Nesse contexto, o próprio André Ventura fez um comunicado a dizer que a dada altura chegou a estar “próximo do islamismo”.

Durante esse percurso, conheceu o antigo ministro social-democrata Rui Gomes da Silva: também ex-dirigente do Benfica, o advogado recorda como chegou a ter escritas 200 páginas de um livro, a meias com Ventura, sem vestígios das bandeiras que o líder do Chega agita hoje, como a castração química ou a prisão perpétua. Neste episódio, Ventura confessa que quer acabar os seus dias “num mosteiro”.

Um retrato falado de André Ventura, sobre o caminho contraditório do líder do Chega para o extremismo político. A narrativa, da autoria do jornalista do Expresso Vítor Matos, conta a história de André antes do venturismo, um fura-vidas à procura de uma oportunidade, e que ascende na Igreja, na academia e no comentário, até ceder às tentações da notoriedade e do populismo. Entre Deus e o Diabo, Como André se fez Ventura, é um podcast narrativo de sete episódios com publicação semanal. A partir de 12 de março e a cada domingo será publicado um novo capítulo em todas as plataformas de podcast e em Expresso.pt

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jlamorim@expresso.impresa.pt

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