As Mulheres Não Existem

Francisca Baptista da Silva: Em países muçulmanos “senti-me menos objetificada do que no ocidente"

Coordenadora de projectos humanitários internacionais, Francisca Baptista da Silva esteve nas equipas de resposta ao ciclone Idai, em Moçambique, na República Democrática do Congo, Filipinas, Serra Leoa, Sudão do Sul e às portas da Europa, na Grécia e Sérvia. À conversa com Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira no podcast As Mulheres Não Existem, fala na sua vida entre campos de refugiados, clínicas móveis e hospitais de campanha

Francisca Baptista da Silva trabalha em contextos de conflito ou carência e a monitoriza violações de direitos humanos: “Fala-se muito dos crimes de guerra, agora outra vez por causa da Ucrânia. É isso que fazemos, verificações no terreno em tempo real”, explica. Estudou História e diz que nunca se arrependeu: “Sempre que chego a um contexto diferente, parte do trabalho é analisar o contexto, as forças envolvidas, e a historia é de facto uma boa ferramenta. A História e o Cristiano Ronaldo já me safaram muitas vezes!”

O levantamento de necessidades é outra prioridade no terreno. Salvar vidas, resposta a doenças transmissíveis, saneamento, abrigo, fazer a ligação com as autoridades e a mobilização de recursos. No Congo, deparou-se com o problema da violência sexual em contexto de guerra: “Há uma serie de tabus e de vergonha associada, muitas vezes as mulheres são expulsas da familia.”, relata. “Tratávamos a parte física, a saúde mental e depois todos os nossos esforços” iam no sentido de 'fazer lobby’ com as autoridades, as Nações Unidas, os responsáveis pela reintegração e alertar para estes casos que eram desconhecidos.”

Em certos contextos ser mulher é um desafio, confessa. Existe o medo inerente em cenários onde a violência sexual é quotidiana, depois existem as questões culturais: “Em contextos muçulmanos há uma diferença óbvia - ter de usar o véu ou haver líderes que não falam comigo por ser mulher. Por outro lado, senti-me muito menos objetificada do que em contextos ocidentais.”

Neste episódio de As Mulheres Não Existem, da autoria de Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira, falamos também de Jane Addams, conhecida como a “mãe” do trabalho social e de Rachel Keke, a empregada doméstica que chegou a deputada em França. Nas recomendações, destaque para um artigo de Djaimilia Pereira de Almeida no New York Times e para o novo livro de poesia de Cláudia R. Sampaio.

TIAGO MIRANDA

Todas as semanas, trazemos uma nova convidada para uma conversa exclusiva sobre a sua vida e o percurso profissional - mulheres que são casos individuais e também inspiradores de determinação, curiosidade, inteligência e vontade de arriscar. Vamos também dar a conhecer histórias de mulheres que marcaram a sociedade e foram pioneiras nas suas áreas. Vamos falar das preocupações e reivindicações das mulheres hoje, e das notícias em que as mulheres são protagonistas. E a cada semana vamos trazer novas recomendações de autoras femininas ou em que as mulheres são protagonistas - desde livros, artigos, filmes e exposições a músicas e documentários.

As Mulheres Não Existem é um podcast sobre mulheres para ouvintes de todos os géneros. Pode ouvir e seguir os episódios em todas as plataformas de podcast e no site do Expresso. As Mulheres Não Existem tem o patrocínio do Banco Credibom e piscapisca.pt.

Tiago Pereira Santos

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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