“Permitir que jovens tomem decisões irreversíveis sobre o corpo antes da maturidade é, na minha perspetiva, criminoso”

Para este diálogo, José Maria Pimentel juntou dois convidados que representam posições distintas, mas com abertura ao confronto de ideias. Miguel Vale de Almeida, antropólogo e ativista de longa data pelos direitos LGBT, sublinha como a luta pela igualdade racial, de género e sexualidade sempre enfrentou resistências, mesmo dentro da própria esquerda. Além disso, alerta para a forma como certos discursos anti-woke funcionam mais como uma etiqueta acusatória do que como verdadeira análise. Já Patrícia Fernandes, filósofa social e crítica do identitarismo, argumenta que o chamado “wokismo” é um fenómeno geracional e culturalmente específico, diferente da crítica filosófica mais consistente ao liberalismo.

A conversa percorre temas como a ideia de “autoridade epistémica da experiência”, segundo a qual apenas quem pertence a um grupo pode falar legitimamente sobre ele, e a forma como símbolos e linguagem se tornaram centrais nas novas guerras culturais. Enquanto Miguel chama a atenção para os riscos de transformar a questão trans em papão político que ameaça direitos conquistados, Patrícia alerta para a obsessão com certos temas que, no seu entender, já não são os problemas mais centrais, defendendo até a hipótese de medidas de ação afirmativa para rapazes no contexto escolar.