A casa onde tudo nasce

Na crónica ‘Sem Preço’, Catarina Nunes escreve sobre como o início da Shiseido no século 19, no Japão, determina o que agora vende mais em Portugal
Na crónica ‘Sem Preço’, Catarina Nunes escreve sobre como o início da Shiseido no século 19, no Japão, determina o que agora vende mais em Portugal
Jornalista
Parece impossível as marcas de cosmética abandonarem o combate ao envelhecimento. Os sinais da passagem do tempo são, na mesma medida, uma obsessão coletiva instalada em todas, e cada vez mais novas, idades. Não é de estranhar, por isto, a sucessão de produtos de beleza que se querem disruptivos, com resultados e alegações legitimadas por estudos, principalmente nas marcas de luxo, com a ciência e a tecnologia na base do seu desenvolvimento.
A Shiseido não foge à regra, mas será uma das primeiras dedicada à investigação científica, pelo menos a partir da Ásia e para mundo, onde alcança o estatuto de marca global. É fundada no Japão por Arinobu Fukuhara, em 1872, como uma farmácia convencional na zona chique de Ginza, em Tóquio, marco que é até hoje destacado no logotipo da marca, com a referência Ginza Tokyo. Começa por investigar e desenvolver preparados medicinais à base de plantas, com o foco na preservação da saúde, evoluindo em 1897 para a cosmética. Um dos significados da denominação Shiseido (em português ‘onde tudo nasce’ e ‘casa’) encerra o propósito inicial de promover a saúde do corpo. É também premonitório da expansão do negócio para a saúde da pele nos 151 anos seguintes, a partir da casa onde tudo começa e onde se encontra atualmente a sua sede, em Tóquio.
As descobertas científicas revelam-se o caminho certo, comprovado com a mais recente inovação da Shiseido, que se torna na linha de cuidados de rosto que a marca japonesa mais vende em Portugal, desde que é lançada em 2020. A linha Vital Perfection surge em pleno confinamento, na sequência da investigação em neurociência que vinha a ser desenvolvida, a nível do sistema nervoso da pele e do mecanismo de reativação da regeneração natural. Daqui derivam as novas formulações de produtos Shiseido que ressoam na cabeça dos portugueses, terreno fértil para a ideia de cosméticos que estimulam o potencial de auto-regeneração da pele do rosto.
O ataque aos sinais de envelhecimento começa cada vez mais cedo. A Vital Perfection abrange todos os tipos de pele, a partir dos 35 anos, e posiciona-se como um coadjuvante na preservação dos mecanismos naturais da pele. Com o foco na firmeza e luminosidade, esta linha estreia-se com produtos de uso diário (creme de dia, creme de noite, contorno ocular, sérum e tratamento intensivo para rugas e manchas) e outros de uso semanal (máscara de olhos e máscara de rosto). O mais recente a juntar-se a esta família é um passo adicional a fechar a rotina de cuidados antes de dormir e significa mais uma inovação científica.
O LiftDefine Radiance Night Concentrate não é um sérum, apesar de ter essa textura, e é indicado para peles mais velhas (mais de 40 anos) do que as da linha em que se integra. Aplica-se depois do creme de noite, obrigatoriamente, por conter um complexo de ingredientes ativos que atuam em sinergia com o processo regenerativo noturno. Idealmente deve ser usado por cima do creme de noite Vital Perfection, mas não é incompatível com qualquer outra linha da Shiseido nem de outras marcas. Este novo concentrado redefinidor do rosto é fruto da pesquisa, entre os oito centros de investigação da Shiseido, que conclui que a ausência de firmeza não é só falta de qualidade da epiderme. Também é um mecanismo natural que ajuda a manter a firmeza e contornos do rosto, que a marca denomina como ‘Dynamic Belt’.
Na base da investigação estão os músculos que erguem os pelos, que se posicionam na direção oposta à dos músculo faciais. A conclusão é que se os músculos dos pelos estiverem em bom estado, darão uma melhor sustentação à pele. É aqui que entra o novo LiftDefine Radiance, ao reforçar o ‘cinto dinâmico’ anti-gravidade, apoiando este sistema interno da pele e a regeneração das células fibroblastos. Os estudos da Shiseido indicaram ainda que o alongamento da pele na direção dos músculos eretores dos pelos aumenta as células estaminais e estimula a regeneração, reforçando o dito ‘cinto dinâmico’.
Resultado: a aplicação do concentrado deve ser feita com uma massagem manual, que potencia a ação extrato de alcaçuz, igualmente presente na formulação, e contraria a gravidade. É suposto fazer, com os dedos das mãos, quatro movimentos não muito diferentes dos que se fazem nas massagens faciais, para redefinir a linha do maxilar, elevar as faces, contornar os olhos e esculpir o rosto, respetivamente. As várias vertentes envolvidas, desde a investigação científica até à aplicação deste complexo, são sintetizadas na frase ‘O Potencial Não Tem Idade’, que suporta o posicionamento do concentrado noturno. A atriz Anne Hathaway, de 41 anos, dá a cara por todos os produtos desta linha, como embaixadora global da Vital Perfection, mas em Portugal não há uma figura pública associada.
As novidades com resultados potenciados pela tecnologia são extensíveis à maquilhagem, onde a Shiseido assinala outra disrupção. A nova gama de bases com 30 tons (todas as peles e textura de sérum) aproxima a Shiseido de outra tendência crescente, que é a maquilhagem com princípios ativos idênticos aos dos produtos de tratamento da pele. A fórmula híbrida, que junta os pigmentos de cor com os ingredientes dos cosméticos, é potenciada com kefir fermentado (antioxidante e prebiótico de arroz japonês que renova e previne a perda de hidratação), que atua em conjunto com a niacinamida (derivada da vitamina B3 que refina e fortalece a pele). As bases Revitalessence Skin Glow, porém, não têm apenas os mesmos ingredientes de um sérum Shiseido.
Estes estão presentes nas mesmas quantidades, o que confere propriedades hidratantes às bases, além da proteção solar SFP30 PA +++ e do resultado iluminador, mesmo após a desmaquilhagem. À semelhança da aplicação do concentrado Vital Perfection, a base Revitalessence Skin Glow é apresentada com uma dica de J-Beauty (beleza japonesa), que sugere a utilização da ponta dos dedos ou de uma esponja húmida ou da ponta dupla do pincel Shiseido Daya Fude Face Duo. Para um efeito com maior cobertura de imperfeições da pele, a recomendação é o pincel Hasu Fude Foudation Brush. A utilização de sérum está dispensada? É até recomendado que esta base seja complementada com o concentrado Shiseido Ultimune, para melhores resultados.
Lançadas há cerca de um mês, só o tempo dirá se estas bases híbridas vão seguir o caminho de best-seller na maquilhagem, como a linha Vital Perfection nos cuidados de rosto. Por entregarem resultados visíveis ou por se acreditar que um dia, com o uso continuado, os resultados irão aparecer? Por mais que seja impossível, por enquanto, recuperar a juventude ou parar de envelhecer. A ciência é uma esperança.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CNunes@expresso.impresa.pt