Conhece o 2º melhor hotel de Lisboa? Só fica atrás do Ritz

Na crónica ‘Sem Preço’, Catarina Nunes dá a conhecer os segredos do hotel Palácio Príncipe Real, que lhe valem o prémio da Condé Nast Traveler
Na crónica ‘Sem Preço’, Catarina Nunes dá a conhecer os segredos do hotel Palácio Príncipe Real, que lhe valem o prémio da Condé Nast Traveler
Jornalista
Esqueça a ideia de ir a este hotel para tomar um café e ‘espreitar’ o ambiente. O Palácio Príncipe Real é o segundo melhor hotel em Lisboa, mas ao contrário do número um (o Ritz Four Seasons) tem o acesso vedado a quem não estiver hospedado. Uma política dos proprietários, em nome da tranquilidade dos hóspedes, que exclui também convites a influenciadoras e a presença de animais e de menores de 16 anos
Não são estes detalhes per si que determinam o prémio. Mas contribuem para criar a vivência no Palácio Príncipe Real, que leva a revista Condé Nast Traveler a atribuir-lhe o Readers’ Choice Award 2023, o galardão internacional mais prestigiante na hotelaria. É distinguido como o segundo melhor em Lisboa, com 93,92 pontos, a seguir ao número um Ritz Four Seasons (94,23), e o sétimo melhor em Portugal, sendo apontado como o melhor para uma estadia palaciana. A qualificação não podia ser mais literal, estando este hotel instalado num palácio no coração do Príncipe Real, construído em 1877 por Tomás Quintino Antunes, Conde de São Marçal e co-fundador do ‘Diário de Notícias’. Mais tarde, é propriedade e residência da família Teixeira da Mota.
Antes de ser comprado em 2015 pelos atuais proprietários, o casal britânico Gail e Miles Curley, esteve abandonado 12 anos, depois de uma fase de ocupação com escritórios. Na transição para hotel, preservar e reabilitar a arquitetura original é a maior das preocupações. Mantêm-se, por exemplo, os painéis de azulejos azuis e brancos, os tetos arabescos em estuque pintado à mão, o corrimão da escadaria principal e o chão à entrada em xadrez de pedra lioz rosa e preta, replicado com pedras novas em outras áreas, como no bar e na sala de jantar. Estas são as primeiras características destacadas no artigo da Condé Nast Traveler, que acompanha a distinção na tabela dos melhores hotéis em Portugal, mas não são as únicas. Já lá irei.
Para quem, tal como eu, tem tendência para desconfiar do processo que está na base deste tipo de prémios, o Readers’ Choice Condé Nast Traveler apresenta-se com uma metodologia bastante democrática. Votam os leitores da revista (520 mil, nos prémios deste ano), enquanto os hotéis abrangidos são selecionados por editores da revista, de forma independente, e testados por jornalistas. São tidos em avaliação hotéis de cinco estrelas mas também hotéis boutique e alojamentos menos conhecidos, que ofereçam uma experiência autêntica de destino.
Com 2.500 metros quadrados (um piso térreo e três andares), o Palácio Príncipe Real pode encaixar-se, praticamente, em todos os critérios. Oferece um serviço de cinco estrelas sem as ter, porque os proprietários não se candidataram a essa distinção por não quererem responder a burocracias. É um hotel boutique, com os seus 25 quatros num edifício histórico, e é menos conhecido por não estar aberto ao público exterior nem a influenciadoras digitais. A ajudar no secretismo está também o facto de funcionar em pleno só desde abril de 2022, depois de uma abertura e funcionamento a meio gás, com cinco quartos, devido às intermitências da pandemia.
Começa, aliás, por ter 28 quartos que, para alargar algumas áreas, acabam por ser reduzidos para os atuais 25. Com decorações, cores e tipologias diferentes, são todos idealizados por Gail Curley, que escolheu e comprou pessoalmente o mobiliário e as peças. Mais importante: têm uma atmosfera de espaço vivido, que é comum a todo o hotel e difícil de encontrar nos hotéis de luxo grandes e de cadeias internacionais. Um dos quartos mais especiais ocupa o antigo salão de festas do palácio, com a banheira instalada onde no passado se encontrava o piano e a cama a ocupar a área que era dedicada ao baile.
Apesar de aqui se sentir como se vivia há três séculos (pelo menos alguns afortunados), o conforto e o luxo do século 21 não são descurados, com o chão da casa-de-banho aquecido e os produtos de higiene Byredo. O ‘Fabricado em Portugal’ está presente nos atoalhados, roupa de cama, roupões, chinelos, mobiliário e roupeiros, bem como em todas as pedras e mármores do hotel. O cunho nacional abrange ainda os prazeres do paladar e do olfato, com os chocolates Nau de Cacau, as velas perfumadas Ecolove e as flores frescas do jardim nos quartos e nas áreas comuns. Do melhor com origem em Inglaterra, há secadores de cabelo Dyson e banheiras e chuveiros Drummonds. Um dos aspetos menos comum, também referido na Condé Nast Traveler, é o serviço de mini-bar (Smeg) durante a estadia estar incluído no preço da diária, além das máquinas e café Nespresso.
Estes mimos são inegociáveis para Gail e Miles Curley (ela uma ex-executiva de recursos humanos na banca, ele um ex-advogado corporativo), que querem resgatar o conceito de hospitalidade de luxo, que hoje em dia está focado em ganhar dinheiro em vez de fazer os hóspedes sentirem-se especiais. Gail Curley reconhece que o nível de serviço de luxo que proporciona é possível porque o pode fazer livremente. Ela e o marido são os únicos proprietários do hotel, e gestores em simultâneo, não tendo que prestar contas dos gastos a acionistas nem a investidores. Também não trabalham obcecados com a taxa de ocupação, deixando quartos livres deliberadamente. Assim podem proporcionar check-in antecipado e check-out tardio a quem chega nos primeiros voos da manhã ou parte ao fim do dia, e troca de quarto caso o cliente não esteja plenamente satisfeito com o que lhe foi atribuído.
Todos estes detalhes implicam foco no hóspede e investimento financeiro, mas também aquilo que para Gail Curley é o melhor do Palácio Príncipe Real: a equipa. São as pessoas que trabalham com ela e com marido - ambos operacionais no dia-a-dia no terreno (Gail recebe os hóspedes, Miles limpa a piscina, por exemplo), que prestam o nível de serviço desejado. O tempo e presença ativa dos proprietários e o desejo de agradar são também salientados no artigo da Condé Nast Traveler, incluídos num conceito alargado de generosidade, que é extensível ao espaço físico. Pode-se mesmo dizer que o ponto de partida são mesmo os generosos 1.400 metros quadrados de jardim. É por ele que Gail Curley começa por se apaixonar e, para mim, é o mais singular.
Resguardado nas traseiras do palácio, partilhando o muro com o British Council, o espaço exterior tem vivência própria, dominada pelo canto dos pássaros, as palmeiras centenárias, a piscina aquecida com painéis solares e um imponente jacarandá que dá o nome a um dos quartos, decorado em tons de lilás e vista direta para a copa desta árvore. O extenso relvado enquadra outras árvores, plantas verdejantes e arbustos floridos, habitat de uma série de pequenas estátuas de macacos, um elefante, um tucano, um dragão de Komodo e vários patos. O jardim chega a albergar, no passado, um pato verdadeiro, o Corredor Indiano que é o símbolo do hotel, mas que acaba realojado noutra paragem, por ser demasiado ruidoso para os hóspedes e vizinhança.
Os patos desta raça - reconhecidos pela postura de pinguim e correrem em vez de se bambolearem, como os patos domésticos, na verdade, estão por todo o lado. Desde o símbolo do Palácio Príncipe Real, ao monograma gravado na carteira em pele que é entregue ao hóspede com a chave do quarto (primeira vez que vejo tal detalhe), passando pelo Duck Bar e áreas comuns e quartos. Os patos, a par com outros animais, são uma parte da materialização do objetivo de Gail Curley de trazer o jardim para dentro do hotel. O propósito é visível igualmente nas imagens de plantas e flores em pinturas, desenhos, candeeiros, mobiliário e objetos diversos, que povoam os interiores.
Decorado em cor-de-rosa, decalcado da cor do palácio, o restaurante não é, estranhamente, mencionado na avaliação da Condé Nast Traveler. Os proprietários também não têm pretensões gastronómicas. Querem servir comida simples e com ingredientes de alta qualidade, em que a carne, o peixe e os lacticínios são de fornecedores sustentáveis, enquanto as frutas e os legumes são comprados localmente. De inspiração nacional é também uma das entradas (pastéis de bacalhau no forno), enquanto o risotto de espargos e limão, a pasta caseira com pesto de tomate seco e a polenta com vegetais assados e parmesão são alguns dos pratos quentes da carta de verão. Tudo disponível ao almoço e ao jantar, mas com novas propostas assim que entre a carta de inverno. O pequeno-almoço é igualmente servido à carta, para evitar os desperdícios inerentes ao buffet, e inclui iogurte grego, tostas sourdough com puré caseiro de tomate, abacate ou presunto ibérico, e duas opções de ovos, além de sumo fresco diário e prato com frutas.
Em termos de atividades, é disponibilizado em cada quarto um tapete de ioga para prática livre, mas a ideia é reconverter um espaço no palácio onde haverá aulas. Em matéria de bem-estar, há duas salas de tratamentos, com faciais Agustinus Bader e massagens corporais com os produtos Aromatherapy. A medicina tradicional chinesa e a prevenção da saúde são a base dos tratamentos criados por Filipa Costa, terapeuta com um percurso em spas de hotéis, como Altis Belém, Bairro Alto Hotel, Valverde e Ritz. O tratamento com a vibração e som de gongos e taças tibetanas, que ajuda a desconectar e a acalmar a mente, é o mais original, mas os restantes incorporam igualmente técnicas ancestrais, como shiatsu e reflexologia.
A Ásia é marcante no percurso de Gail e Miles Curley, que viveram em Singapura além de Madrid e Londres, de onde partem inicialmente. Com Lisboa como base, agora, não tencionam lançar-se em novos projetos hoteleiros. Miles Curley tem uma propriedade com 3 mil oliveiras, nos arredores de Madrid, que apenas fornece o azeite utilizado na cozinha do restaurante, mas o plano é transformar a produção para consumo próprio numa marca autónoma. Outra das tarefas de Miles, além de limpar a piscina, é estacionar os carros dos hóspedes ou conduzi-los no Renault 4L do hotel, sempre que é necessário. Este modelo é o mesmo que Miles Curley compra quando o casal se muda a primeira vez de Londres para Madrid, em 1991, e que agora se encontra numa casa de família em Maiorca. O ‘irmão’ deste Renault 4L, que serve o palácio, marca agora um novo recomeço. E é digno de referência na Condé Nast Traveler.
Palácio Príncipe Real
A partir de €450 até €950, por noite
Rua de São Marçal 77
1200-419 Lisboa
https://www.palacioprincipereal.com/
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CNunes@expresso.impresa.pt