Ministério da Cópia
O debate político necessita de se centrar na procura das melhores respostas aos problemas sobejamente conhecidos por todos
Professor no ISEG e investigador do Centro de Investigação em Ciências Sociais e Sociologia
O debate político necessita de se centrar na procura das melhores respostas aos problemas sobejamente conhecidos por todos
Nos anos que correm, um estranho fenómeno tem florescido nas democracias ocidentais: líderes democraticamente eleitos têm taxas de aprovação muito reduzidas pouco tempo depois de serem eleitos. Donald Trump apresenta uma taxa de aprovação de -13% (The Economist). No Reino Unido, 67% dos eleitores desaprovam o trabalho de Keir Stamer (YouGov.co.uk). Em Portugal menos de um terço dos eleitores afirma confiar em Luis Montenegro (DN/Aximage). Algo semelhante se passa em muitos outros países.
Variadas razões ajudarão a explicar este estranho fenómeno, sendo que uma é seguramente o distanciamento entre o discurso político e as preocupações das pessoas. O próprio debate político entre comentadores, políticos e analistas é profundamente centrado no comportamento dos políticos. Mas, a verdade é que por muito desastrada que tenha sido a entrevista de Carlos Moedas à SIC ou divertido ver o André Ventura indignado com o BürgerFest, os debates em torno destes temas são bastante inúteis à melhoria da vida das pessoas.
O debate político necessita de se centrar na procura das melhores respostas aos problemas sobejamente conhecidos por todos. Um debate plural, descomplexado e, necessariamente ideológico, centrado nas ideias e não nas pessoas. Debater as pessoas gera ódio e violência política. Já olhar para coisas que parecem pequenas, mas que em conjunto se tornam significativas terá um efeito brutal no futuro do país. Olhar para o mundo pode ajudar.
A título de exemplo, o Empire State Building, com 102 andares e 443,2 metros de altura (incluindo a antena) foi construído em 13,5 meses entre 1930 e 1931, a um ritmo de 4,5 andares por semana. Hoje, em Portugal, qualquer prédio demora mais de um ano a ser construído. Como é que em 2025 Portugal não consegue a eficiência e a produtividade que os EUA mostravam em 1930? O que é que eles fazem que nós não conseguimos fazer? Melhor planeamento, mais pessoas? Tudo isto se resolve com vontade e incentivos certos.
No Aeroporto de Newark, cruzar a fronteira à chegada é um exercício de paciência. Primeiro à espera de ser chamado e depois no detalhe das perguntas colocadas pela polícia. Tal como cá, muitos postos fronteiriços estão vazios. Já cruzar a fronteira à saída é um ato de simplicidade e eficiência absoluta. O controlo de passaportes à saída é feito na fila para o controlo de Raio X, por seguranças – os mesmos que estão no controlo de Raio X. Como este controlo é mais demorado do que o controlo de passaportes, a eficiência é total. Ao não ser conduzido por polícias, liberta pessoal altamente qualificado para aumentar o número de polícias a controlar a entrada no país. Como o processo é feito numa fila que já existe sem necessidade de mais espaço do que já está alocado para o efeito, liberta-se espaço de aeroporto para o controlo de chegadas.
Já, cá em Portugal, aloca-se um polícia a carimbar o passaporte de pessoas controladas eletronicamente. Apesar de todo o cuidado no controlo de entradas, nos EUA não se perde tempo com carimbos. Felizmente, a entrada em operação do novo sistema europeu de controlo de fronteiras elimina a necessidade de carimbar o passaporte.
A um outro nível, qual a necessidade de passar o passe ou o bilhete para sair do Metro de Lisboa? Formam-se filas enormes e demoradas, sem necessidade aparente. Um torniquete que precise de bilhete para deixar entrar no Metro e esteja destrancado para quem sai torna todo o processo muito mais eficiente. Pessoas a andar de Metro sem pagar vão existir sempre, já a obsessão em minimizar este risco tem um peso grande na produtividade do país.
Na Croácia, o sinal verde nos semáforos de trânsito é sempre procedido por um sinal amarelo, alertando os automobilistas que dentro em breve podem andar, o que torna o trânsito muito mais fluído. A velocidade de reação ao sinal verde em Zagreb é excecionalmente mais elevada do que em Portugal.
Muitos outros exemplos podem ser dados, pelo que, parafraseando alguém, é urgente criar um Ministério da Cópia, cujo responsável ande pelo mundo fora a ver o que se faz noutros países e que se pode trazer para Portugal, tornando o contexto mais eficiente e produtivo.
A transformação que o país precisa também é feita destas pequenas mudanças.
Se o desenvolvimento do país passa por ultrapassar algumas características culturais que partilhamos como povo, também é verdade que é a nossa capacidade de adaptação a novas realidades e de as abraçar que tornam este processo de cópia condenado ao sucesso. É preciso é que os políticos e o debate político se centrem no que realmente importa: desenvolver e enriquecer o país para resolver os problemas de todos os que vivem em Portugal.
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