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Opinião

Um país de snobes cria um povo ressentido

As vítimas desse problema são portugueses pobres ou remediados e sobretudo brancos, não são migrantes; não são as vítimas certas

Hugo van der Ding é um grande entrevistado e, devido à sua dupla identidade, tem sempre uma visão que me interessa sobre Portugal; é um bolo com vários travos. Numa das entrevistas, ele conta um episódio que me é familiar: numa mercearia, uma senhora de Lisboa humilha o funcio­nário do Nepal ou do Bangladexe através de uma pose altiva e desagradável, que incomoda o espírito mais igualitário de Van der Ding; fica a ideia de que ele vê aqui um episódio de racismo. Será sem dúvida, mas, a meu ver, o racismo é, neste caso, uma derivação da soberba snobe, o maior veneno de Portugal ou da portugalidade. Ou seja, se o funcionário fosse um desgraçado português, um tuga desdentado e submisso, e não um desgraçado do Indostão, aquela senhora teria repetido a cena; ela não está a ver a tez, está a cheirar o estatuto. Já vi esta cena várias vezes em Lisboa ou Coimbra só com portugueses no elenco: há soberba da cliente poderosa e há subserviência do dono da mercearia; a deferência social pela cliente que é uma “senhora doutora” corre em paralelo com o desprezo social pela cliente que não tem onde cair morta.

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