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Opinião

Se não há prova, arranja-se

Se não há prova, arranja-se

Rodrigo Guedes de Carvalho

Jornalista e escritor

Os ‘Apanhados’ da RTP inauguraram a câmara oculta nos anos 70. A diferença para hoje está numa palavra: consentimento

De 1978 a 1980, na onda de uma revolução que trazia finalmente possibilidades de ar fresco e experimentação, a RTP produzia e transmitia o programa “Tal e Qual”, de Joaquim Letria e Thilo Krassman. Um dos segmentos que ganharia um lugar de destaque e de história, que se percebe bem pelas imitações que gerou, foi o ‘Apanhados’. (Vai daqui um abraço de saudades ao Manolo Bello, meu companheiro de RTP e mais tarde da SIC.) Escuso de explicar o ‘Apanhados’ a algumas gerações, mas direi aos mais novos, em resumo, que se tratava do nascimento da câmara oculta. Elaborar situações que significassem um desafio imprevisível sobre a reacção das pessoas sujeitas a um “teste”. As pessoas eram “apanhadas” no momento, o que significa que não sabiam que estavam a ser filmadas, única garantia de um comportamento genuíno. Seriam depois avisadas que era para os apanhados e teriam de dar, obviamente, consentimento para que a RTP pudesse transmitir o que filmara. Este “obviamente” ligado à noção de consentimento é uma das muitas fronteiras continua­mente esbatidas, primeiro, e apagadas, depois, no mundo como hoje o conhecemos. Vejamos: as câmaras da RTP registavam comportamentos patuscos, engraçados, inofensivos, e seria fácil apelar à vaidade do anónimo que permitia, sim, claro, que passassem as imagens dele em prime time.

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