Integração sem contradições: o desafio de regulamentar a Imigração
Portugal debate-se entre duas exigências inconciliáveis: pede-se maior integração de quem chega, mas ergue-se a barreira legal do reagrupamento familiar
Bastonário da Ordem dos Advogados
Portugal debate-se entre duas exigências inconciliáveis: pede-se maior integração de quem chega, mas ergue-se a barreira legal do reagrupamento familiar
A recente revisão da Lei dos Estrangeiros expõe este paradoxo masevidencia o esforço do Governo para dotar o país de um novo quadroregulatório para a migração.
A nova lei introduz carência de dois anos para reunir a família apósa autorização de residência, alonga prazos de decisão de três para nove meses e impõe requisitos reforçados de alojamento e meios desubsistência.
As medidas respondem à necessidade de controlo administrativo, mas não podem esquecer que a família é o motor da integração. Separar pais filhos fragiliza o tecido social e alimenta a exclusão que dizemos combater.
A integração bem-sucedida traduz-se em ganhos concretos para asociedade portuguesa. Famílias estáveis contribuem para a maiorcoesão social, reduzem a criminalidade e aumentam a participação cívica.
Crianças escolarizadas desde tenra idade dominam a língua, adoptam valores nacionais e tornam-se pontes entre comunidades.
Portugal beneficia economicamente da presença dos imigrantes:contribuem com saldo positivo de 1,8 mil milhões de euros para a Segurança Social, preenchem lacunas no mercado laboral e atenuam odéfice demográfico que ameaça o sistema de pensões.
A integração exige equilíbrio. Língua, emprego e valores constitucionais são pilares inquestionáveis; todavia, legislar sem mecanismos céleres de reagrupamento arrisca trocar coesão por isolamento. A regra dos dois anos poderá ser revista se mostrar impacto negativo.
Em tempo de grandes dificuldades dos serviços públicos, a Ordemdemonstrou disponibilidade para ser parte da solução. Os 3.342Advogados candidatos a apoiar a AIMA exemplificam o nossocompromisso. Esta resposta revela que a Advocacia não se demite das suas responsabilidades sociais.
A plataforma digital ligando Advogados à AIMA pode vir a representar um passo fundamental para agilizar procedimentos. Este canal permitirá consultar processos em tempo real, submeter documentação e obter respostas céleres. A parceria Ordem-AIMA é imprescindível para superar o congestionamento que prejudica milhares de famílias.
O apoio aos serviços públicos não é mero gesto solidário — representa investimento na democracia portuguesa. Quando os tribunais administrativos recebem 900 ações diárias contra a AIMA, o sistema chegou a um ponto crítico e exige respostas coordenadas.
A plataforma digital pode reduzir este contencioso, libertando recursos judiciais para casos complexos. Permite aos Advogados defender os direitos fundamentais mais eficientemente, acompanhando os processos preventivamente.
Uma estratégia migratória madura deve conciliar abertura regulada com defesa da dignidade humana, simplificando o reagrupamento familiar para quem cumpre a lei.
Como escreveu John F. Kennedy, "uma nação revela-se não apenaspelos homens que produz, mas também pelos homens que honra e que recorda". Portugal tem a oportunidade de honrar a sua tradiçãohumanista através de políticas que conjuguem rigor legal com dignidade humana.
Se queremos Portugal coeso, seguro e aberto ao mundo, devemosalinhar discurso, lei e prática.
As barreiras à reunião familiar precisam de ser equilibradas comgarantias de celeridade e justiça material. Só assim honraremos atradição humanista portuguesa: acolher com responsabilidade, integrar com dignidade e garantir que a justiça permanece bem comum de todos.
Porque uma sociedade mede-se não pela altura das suas barreiras,mas pela largura das suas pontes.
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