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Opinião

A ocasião faz o extremista

O Governo mais extremista da nossa democracia constitucional não se explica apenas com os dois terços de direita, ocasião que faz regressar um passismo sem troika, com o forte tempero da IL e do Chega. Explica-se com o outro terço. O problema não é a polarização. É haver um lado que se calou

É mau sinal quando as instituições do sector são surpreendidas por uma reforma. Quer dizer que não foram ouvidas e ela resultou de verdades apriorísticas, ideológicas no pior sentido. A FCT, responsável pelo financiamento da ciência, será extinta e fundida com a Agência Nacional para a Inovação, fazendo depender o investimento em ciência dos interesses das empresas. O Governo acredita que a inovação tem retorno económico imediato. Com este raciocínio nunca teriam existido vacinas contra a covid e boa parte das inovações tecnológicas. Porque a investigação fundamental arrisca e inova e, por isso, precisa do Estado. A investigação dependente das empresas é tendencialmente conservadora, só apostando no que já conhece. Além disto, a ciência é necessária para desenvolver políticas públicas, sem retorno financeiro. Também foi o automatismo ideológico que levou ao descalabro nas políticas da habitação. Enquanto punha fim à penalização das casas devolutas e às medidas de contenção do alojamento local, “socialistas”, o Governo avançou com garantias bancárias e isenção de IMT até aos 35 anos, “liberais”. A inflação foi imediata: 16% no primeiro trimestre, três vezes mais do que no resto da Europa. A Comissão Europeia criticou o baixo controlo dos preços e a pressão do AL. Até os bancos já assumem o erro. Foram achas para uma fogueira que já ia alta.

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