Este tipo de “moderado” foi um pouco socialista depois do 25 de Abril, um pouco liberal na passagem do século e é um pouco xenófobo agora. Procura a bissetriz e só se imagina em minorias resistentes nas tragédias do passado. Com oportunismo e cobardia, inspira fundo o ar do tempo
A obsessão do Governo pela imigração e pela nacionalidade, que ocupam a sua atenção desde que tomou posse, não serve para travar a extrema-direita. Já percebeu que não lhe dá votos. Também não serve para resolver ou prevenir problemas. Se servisse, trabalharia com dados. Chamando a atenção para o desacerto entre o número de imigrantes referido pelo Governo e o de residentes anunciado pelo Instituto Nacional de Estatística, o Presidente da República lamentou: “Um dia teremos os números exatos para se poderem ter políticas públicas com cabeça, tronco e membros.” Na imigração continuamos sem dados rigorosos atualizados, porque o Observatórios das Migrações foi suspenso. Quanto aos pedidos de nacionalidade, os números conhecidos na quarta-feira, do Instituto dos Registos e do Notariado, mostram que só 20% dos processos pendentes correspondem a pedidos de imigrantes. 27% são filhos e netos de portugueses nascidos no estrangeiro, possibilidade que o Governo quer, curiosamente, estender aos bisnetos. 31% são judeus sefarditas, com base numa lei que será revogada. As 700 mil pendências referidas pelo sindicato são, afinal, 515 mil e resumem-se, quando chegamos aos imigrantes, a cerca de 100 mil. É contra estes que o Governo tem apontado as baterias. Apesar de ter alegado um aumento exponencial de pedidos de nacionalidade para mudar a lei, a média mensal desceu 12,5% de 2024 para 2025. Se o Governo quisesse responder à ansiedade das pessoas, não empolava os números. O foco obsessivo serve para esconder o falhanço nas duas áreas que um barómetro recente apresentou como as prioritárias para os portugueses antes da imigração: saúde e habitação.
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