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Opinião

A agonia dos puros

A função deste nacionalismo já não é justificar a expansão imperial, mas sim uma vontade de fechamento atávico às migrações. Já não é justificar uma força centrífuga, mas impedir uma força centrípeta. São momentos diferentes na nossa história e na história da Europa. Ascensão e queda

Os discursos do 10 de Junho foram sobre o passado e isso é, como disse Francisco Mendes da Silva no debate semanal que tenho com ele, sinal de bloqueio. Só que os discursos políticos sobre o passado nunca são bem sobre o passado. Por isso a história, eternamente reescrita, sempre foi disputada. O discurso de Lídia Jorge foi sobre o que queremos ser. É isso a identidade de um povo: uma autorrepresentação construída com base em factos, mitos, lendas e heróis que projetam os nossos desejos e frustrações como comunidade. A nossa identidade, moldada por décadas de propaganda lusotropicalista, baseava-se numa ideia de miscigenação bondosa, determinada por um colonialismo excecional. Apesar de o tráfico negreiro transatlântico ser um dos nossos maiores legados à humanidade, conseguimos fazer da preservação deste mito, que desafia a nossa história e a forma como os outros povos olham para ela, uma espécie de compromisso entre o passado colonial autoritário e o presente democrático. Serviu-nos quando estávamos ocupados a construir a democracia e um país mais moderno.

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