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Opinião

Monsieur de La Trumpice

Somos a favor de estadistas bêbados mas repudiamos por completo os estadistas que parecem estar bêbados. São formas de governar muito diferentes

É possível que o general Jacques de La Palice nunca tenha proferido uma afirmação óbvia na vida, coitado. Quando morreu, em 1525, na batalha de Pavia, era admirado por todos. Por curiosidade, é precisamente nessa admiração que radica a origem da sua triste fama. No seu túmulo está escrito: “Aqui jaz o sr. de La Palice: se não estivesse morto, seria ainda invejado.” Acontece que alguém tresleu o epitáfio e, onde no original francês se lê “s’il n’était pas mort, il ferait encore envie”, convenceu-se de ter lido “s’il n’était pas mort, il serait encore en vie” — ou seja, se ele não estivesse morto, estaria ainda vivo. Ora, mesmo que o epitáfio exprimisse aquele truísmo, dificilmente se poderia atribuir qualquer responsabilidade ao defunto. Mas a injustiça é ainda maior: não é isso que lá está escrito. Um palerma não soube ler uma frase simples e 500 anos depois um desgraçado inocente ainda é motivo de chacota. Acontece. Do mesmo modo, muita gente está convencida de que a descoberta da gravidade foi um esforço conjunto de Isaac Newton e de uma macieira. Não foi. Ao contrário do que diz o mito, Newton não formulou qualquer teoria na sequência de ter sido atingido por fruta madura.

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