A extrema-direita chegou mais tarde, cresceu mais depressa e tem tudo para manter a trajetória acelerada. Aberta a comporta, o caudal não encontrará a resistência institucional, cultural e política que permitiu outros países retardarem a sua chegada ao poder
Celebrávamos o 40º aniversário do 25 de Abril quando fui questionado por uma jornalista francesa, que queria saber por que não tínhamos extrema-direita. Tinham-lhe falado da memória da ditadura e da baixa taxa de imigração. Neguei-lhe a primeira, valorizei a segunda, mas disse que estava enganada: que podia ouvir a extrema-direita nos cafés e nos programas da manhã. Só não tinha sido ativada por um partido. Como seria possível ela não existir no último país da Europa Ocidental a descolonizar e num dos últimos a chegar à democracia? Nos últimos seis anos fizemos o caminho que outros levaram décadas a percorrer. E a extrema-direita pode chegar ao poder ou ficar em primeiro com a mesma velocidade extraordinária. Porque nos faltam os instrumentos que, noutros países, retardaram a sua progressão ou atenuaram o seu impacto.
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