Como as PMEs portuguesas podem ser líderes do amanhã
A pergunta que os líderes das PMEs precisam de fazer é simples, mas poderosa: estamos a construir a empresa que queremos ou simplesmente a reagir ao que nos acontece?
CEO e Co-fundador da Matoaka, consultora financeira
A pergunta que os líderes das PMEs precisam de fazer é simples, mas poderosa: estamos a construir a empresa que queremos ou simplesmente a reagir ao que nos acontece?
As PMEs portuguesas são um verdadeiro motor económico, representando mais de 99% do tecido empresarial nacional e destacando-se como um dos grandes empregadores a nível nacional. Frequentemente celebradas pela sua resiliência e adaptabilidade, estas empresas têm desempenhado um papel essencial na economia e sociedade portuguesa. Contudo, é preciso ir mais fundo e fazer uma pergunta que muitos evitam: será que a sua capacidade para operar bem no presente é suficiente para garantir a sua sobrevivência no futuro?
Apesar de muitas destas empresas terem modelos de negócio sólidos, com respostas claras às perguntas fundamentais como quem é o seu cliente, como gerar rentabilidade, que recursos são necessários e como promover o seu produto ou serviço, a verdade é que é preciso pensar mais além. O problema não está na execução do modelo de negócio, está na ausência de estratégia. Não uma estratégia genérica ou abstrata, mas uma focada em duas vertentes específicas que são vitais para o sucesso: a orientação para o futuro e a competitividade no mercado.
A estratégia de orientação deve ser a primeira a ser considerada. Muitas PMEs pensam exclusivamente no imediato, operando como se o futuro fosse algo que simplesmente “acontecesse”. Raramente se colocam questões fundamentais como onde queremos estar daqui a cinco anos e que tendências podem transformar o nosso setor. Por vezes, estamos tão absorvidos no presente que perdemos a capacidade de olhar para além dele. Sem uma visão clara e sem objetivos a longo prazo, estas empresas tornam-se reativas e vulneráveis às mudanças do mercado.
Assim, planear o futuro não é adivinhar o que vai acontecer; é definir o que se quer alcançar e criar um caminho para lá chegar. As decisões tomadas hoje precisam de ser alinhadas com esse objetivo maior, caso contrário, o futuro será apenas uma sequência de acasos. A pergunta que os líderes das PMEs precisam de fazer é simples, mas poderosa: estamos a construir a empresa que queremos ou simplesmente a reagir ao que nos acontece?
A segunda vertente crítica é a estratégia competitiva. Num mercado saturado, onde os produtos ou serviços são frequentemente idênticos, muitas PMEs competem pelo preço, entrando numa corrida perigosa que desgasta margens e ameaça a sustentabilidade. Neste sentido, surgem alguns problemas ao nível da falta de análise, de visão e, sobretudo, de diferenciação. As PMEs não dedicam tempo suficiente a estudar a concorrência, a identificar oportunidades de se destacarem ou a questionar como podem oferecer algo único, mesmo num mercado aparentemente homogéneo. Ser competitivo não significa necessariamente reinventar o produto, mas sim encontrar formas de ser diferente. Por exemplo, esta diferenciação pode estar no atendimento, na experiência do cliente, na flexibilidade, na comunicação ou até na forma como a empresa se apresenta ao mercado. A competitividade é uma escolha deliberada que requer coragem para sair do comum e procurar algo que a destaque.
Assim, as PMEs portuguesas têm um potencial imenso. São resilientes, conhecem bem os seus mercados e já provaram que sabem operar, mas isso não chega. Sem estratégia, ficam presas ao presente, reféns da inércia do mercado e incapazes de aproveitar as oportunidades do futuro. A verdade é que não basta perguntar “Como sobrevivo?” devemos também perceber “Como lidero?”. Porque o futuro não é um acidente; é uma construção, e a estratégia é o seu alicerce.
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