O abandalhamento do Chega não é estilo, é programa. Serve para degradar as instituições e intimidar adversários. Quando os deputados, por formação cívica ou por temerem a punição dos eleitores, cumprem regras não escritas, o regimento pode ser mais ligeiro. Quando a incivilidade até é premiada pelos eleitores, tem de ser mais explicito. A democracia é o espaço da liberdade e dos seus limites. É nas ditaduras que reina a arbitrariedade.
Sempre houve debates parlamentares mais ou menos acalorados em que alguns limites de civilidade foram ultrapassados. Sempre existiram apartes mais ou menos indecorosos nesses debates. Mas foram momentos excecionais, que resultaram do calor do confronto e que foram resolvidos, sem que isso afetasse o essencial da imagem da Assembleia da República.
As coisas mudaram com o Chega. Estamos perante um comportamento recorrente e premeditado de quem, não acreditado nas instituições democráticos, vê vantagem política em degradar a sua imagem. Porque é a degradação das instituições que permite propor a ordem salvífica e, chegado ao poder, é e a desinstitucionalização da política que permite impor a arbitrariedade. A informalidade com que Elon Musk aparece na Sala Oval não é uma questão de estilo. Corresponde ao programa político que permite a um milionário sem qualquer cargo no governo saltar sobre a lei para destruir as funções regulatórias do Estado por dentro. O abandalhamento é um instrumento de poder.
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