Imaginem que a raiva que os aplausos imorais a Mangione revelaram servia para eleger quem construísse um sistema universal de saúde nos EUA. Só que, sendo a indignação viral inconsequente, nunca beneficia a construção de nada. Só o incómodo que o verdadeiro sistema aproveita
Eu não estou em perigo. Eu sou o perigo. Um homem abre a porta e leva um tiro e achas que isso sou eu? Não. Eu sou o que bate à porta!” A conhecida frase de “Breaking Bad” marca o momento em que se dá a transformação moral de Walter White, um modesto professor de química do ensino secundário que começa a produzir metanfetaminas para pagar o tratamento de cancro. Terá sido este falso sentimento de controlo que transformou o assassino de Brian Thompson, CEO de uma das maiores seguradoras de Saúde dos EUA, num herói popular. Muitos fizeram o paralelismo e a “New Yorker” recordou a longa tradição americana de exaltação moral de heróis fora da lei. Luigi Magione, jovem prodígio, filho de uma família rica e proeminente, só teria aberto a porta. Ao inscrever “negar”, “depor”, “adiar” nas cápsulas das balas mortíferas, deu uma voz improvável à revolta contra um sistema de saúde disfuncional.
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