O melhor que a política tem para oferecer contra uma farda sem um político lá dentro são políticos que se destacam como comentadores, tecnocratas ou sacos de vento. Acabou-se a reserva de senadores. Estamos a rapar o fundo de um tacho vazio, porque a política deixou de cozinhar gente capaz
Para se livrar de mais ataques políticos, António Costa escolheu um militar para substituir o anterior responsável pela vacinação. E, na sua imensa vaidade, o então vice-almirante transformou uma operação logística numa impressionante operação de autopromoção. Como a comunicação social acha que o escrutínio começa e acaba nos políticos, os pequenos casos que inevitavelmente continuaram deixaram de ser notícia. E a oposição não tinha interesse num oficial da Marinha. Passada a pandemia, Presidente e primeiro-ministro perceberam que a farda estava outra vez na moda e tentaram garantir a passividade de Gouveia e Melo com um lugar de chefe do Estado-Maior da Armada que não lhe estava destinado. Desde então, o CEMA, que apareceu muito mais vezes nas televisões, enquanto tal, do que o CEMGFA, usou o seu posto militar como usara a vacinação. O “maçarico” enrolou os veteranos. 42 anos depois da extinção do Conselho da Revolução e do regresso dos militares aos quartéis, um homem fardado foi diariamente indagado sobre o seu futuro presidencial. Nisto, até podemos ser pioneiros. Quase tudo o que nos parecia anacrónico tornou-se vanguardista.
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