O fascismo foi apoiado pelo capitalismo industrial, Trump é apoiado pelo tecnológico. Mas o fascismo concebia a sociedade a partir de um Estado forte. Para Trump e os oligarcas que o apoiam o Estado é securitário para imigrantes e anula-se na regulação do novo poder económico
Publicado em 2018, “O Quinto Risco”, de Michael Lewis, é uma análise da transição entre as Administrações Obama e Trump, revelando como se entregaram departamentos como os da Energia, da Agricultura ou do Comércio a figuras com interesses diretos nestes sectores. O livro descreve como uma combinação explosiva entre incompetência, impreparação e venalidade alimentou o desprezo pela regulação e papel do Estado. Mas isto foi em 2016, quando um Trump impreparado ainda lidava com alguns republicanos dignos desse nome. Na sua reencarnação, só restam apóstolos. Vingativo, rancoroso e reforçado por uma vitória eleitoral em cima de condenações judiciais e de um ataque ao Capitólio, Trump pode romper todas as amarras institucionais que o prendiam. A nomeação de Musk e de Ramaswamy, um fanático bilionário da biotecnologia, para desmantelar partes significativas do Governo federal é o anúncio estrondoso do que aí vem se Trump não se boicotar a si mesmo, como fez no passado. Elon Musk, que tem contratos de milhares de milhões com o mesmo Estado que vai “reformar”, é só o oligarca mais famoso de uma “nova ordem mundial” anunciada por ele mesmo, depois de ser o verdadeiro vencedor destas eleições.
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