Opinião

RONDA: um passo promissor na descarbonização da aviação

RONDA: um passo promissor na descarbonização da aviação

José Madeira

Diretor executivo da International Flight Academy

Este programa centra-se na promoção e potencial desenvolvimento de SAF (Sustainable Aircraft Fuel), um combustível mais ecológico que o tradicional combustível de aviação, contribuindo para a redução das emissões de carbono. Coloca Portugal no caminho certo para a transição energética

A recente iniciativa do governo português com o lançamento do RONDA, o roteiro nacional para a descarbonização da aviação, é um passo significativo na direção de um futuro mais sustentável para o setor aeronáutico. Este programa centra-se na promoção e potencial desenvolvimento de SAF (Sustainable Aircraft Fuel), um combustível mais ecológico que o tradicional combustível de aviação, contribuindo para a redução das emissões de carbono. Ao todo, o RONDA conta com um investimento inicial de 40 milhões de euros, demonstrando o compromisso de Portugal com uma aviação mais sustentável.

Enquanto se celebra este avanço, é interessante compará-lo com esforços semelhantes noutros países, como França e Alemanha. Estes países têm liderado a descarbonização da aviação, através de programas ambiciosos e com maior financiamento. França, por exemplo, anunciou um investimento impressionante de cerca de 1,5 mil milhões de euros em combustíveis de aviação sustentáveis, parte de um plano mais amplo para alcançar a neutralidade carbónica. A Alemanha, por seu lado, também avançou com políticas agressivas e investimentos maciços em tecnologias verdes, criando um ecossistema favorável ao crescimento dos SAF.

Os biocombustíveis de aviação, como o SAF, são mais amigos do ambiente por várias razões. Em primeiro lugar, são produzidos a partir de fontes renováveis, como resíduos agrícolas, óleos vegetais usados e biomassa, que, ao contrário dos combustíveis fósseis, não exaurem os recursos naturais do planeta. Além disso, a queima de SAF geralmente resulta em menores emissões de gases de efeito estufa, como CO2, ajudando a mitigar as mudanças climáticas. A produção e uso de SAF também promovem a economia circular, reduzem a dependência de combustíveis fósseis e diminuem significativamente a pegada de carbono da aviação.

Apesar disso, é imperativo reconhecer os desafios enfrentados por este setor emergente. A capacidade de produção atual de SAF e a prevista ainda não estão à altura do consumo mundial de jet fuel, que é de aproximadamente 300 milhões de toneladas por ano. Atualmente, a produção de SAF utiliza compostos provenientes de várias fontes, incluindo, por exemplo, óleos de cozinha usados (UCO). No entanto, a produção mundial de UCO, estimada em cerca de 20 milhões de toneladas anuais, é ainda residual à luz das necessidades de jet fuel. Esta disparidade demonstra o enorme desafio na substituição do convencional jet fuel por alternativas mais sustentáveis.

Prognósticos para os próximos dez anos sugerem um crescimento substancial no mercado de SAF mas, ainda assim, a sua quota de mercado em relação ao jet fuel convencional permanecerá modesta, devido às enormes necessidades globais. Estimativas indicam que o SAF poderá atingir cerca de 10% do total de combustíveis de aviação em 10 anos, contando com um incremento considerável na capacidade de produção e melhorias de eficiência.

Enquanto se justificam reservas sobre a utilização de aviões comerciais com propulsão a baterias, é encorajador notar que em Portugal já existem exemplos de aviões elétricos recorrendo a baterias de lítio, utilizados em instrução de voo com resultados muito promissores.

Apesar de todos estes desafiantes obstáculos, a iniciativa RONDA coloca Portugal no caminho certo para a transição energética. Serão necessários mais esforços e colaborações europeias e globais para ampliar o acesso e a produção de SAF. Somente com esforços coletivos e investimentos contínuos teremos capacidade de levar o transporte aéreo a um patamar mais verde e sustentável, indispensável para a saúde do nosso planeta.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate