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Opinião

Abusos sexuais na Igreja: desmobilizar as vítimas e limpar a consciência

A Comissão Independente transmitiu confiança às vítimas para que falassem com quem acreditaram não estar ligado a quem abusou ou encobriu. Sem isto, nada do que se faça é sério. O tempo para fazer justiça em causa própria acabou. Mas o objetivo dos bispos parece ser desmotivar as poucas vítimas que resistem, mantendo total controlo sobre o processo de compensações. Diz-se que Deus perdoa, mas, do culpado por décadas de silêncio e encobrimento, espera-se arrependimento sincero. Sujeitar as vítimas a um novo calvário perante as instituições onde foram abusadas e que encobriram o crime é repetir o abuso

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou o regulamento para a atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica. Os pedidos são apresentados às Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis ou aos Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostólica, caso o abuso tenha acontecido nas estruturas a eles ligados.

Primeiro, as vítimas têm de preencher um documento com a sua identificação e a idade que tinham no momento do abuso; o nome e a função à época do abusador; a data, o local e uma “descrição sucinta” dos abusos; as entidades a quem fez a denúncia e as medidas que foram tomadas. Ou seja, a vítima tem de voltar a fazer o que, em vários casos, já fez, incluindo junto da Comissão Independente, que produziu o relatório que levou a esta decisão, ou ao Grupo Vita. Agora de forma burocratizada, mas nem por isso menos dolorosa.

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