Tristeza americana
Num país normal, o passado de Biden jamais lhe permitiria ser eleito Presidente, já para não falar de Trump, cujos crimes, erros e sinais de loucura todos conhecem
Ex-deputado do PSD
Num país normal, o passado de Biden jamais lhe permitiria ser eleito Presidente, já para não falar de Trump, cujos crimes, erros e sinais de loucura todos conhecem
O texto de Adam Ball que Sam Mendes levou ao grande ecrã retrata a crise de um americano a viver uma crise de meia idade. A democracia dos EUA não é tão jovem mas é, ou era, das mais maduras e consolidadas que conhecemos, com os seus check and balances, com alternância no poder e com o sucesso de ter permitido construir a maior potência mundial e um dos países mais desenvolvidos do mundo. O verdadeiro american dream que atraiu e ainda hoje atrai milhões de pessoas.
Mas apesar de tudo isto a sensação que fica é que nos EUA as verdadeiras elites, se já estiveram, não estão hoje na classe política ou na sua liderança. Se é verdade que a história americana é rica em grandes Presidentes como George Washington ou Abraham Lincoln, também teve Andrew Johnson, George W. Bush e Trump. Mesmo Biden só foi bom porque impediu Trump de fazer dois mandatos seguidos e trouxe alguma decência à Casa Branca. Mas num país normal, o passado de Biden jamais lhe permitiria ser eleito Presidente, já para não falar de Trump, cujos crimes, erros e sinais de loucura todos conhecem.
O que não deixa de ser estranho, ou então andamos muito equivocados com a percepção que temos do povo americano, é o ponto a que chegaram com dois candidatos presidenciais tão maus como Trump e Biden ou agora Kamala Harris. E as suas alternativas internas não são necessariamente melhores. Mas o povo vota neles e chumba outros que até nos parecem mais decentes.
Será que é o sistema eleitoral que está pervertido, seja na escolha dos partidos seja depois no voto dos cidadãos? Será que é o modelo de financiamento? Ou será a forma como são necessárias determinadas alianças para se obter o apoio interno? Mas nos EUA os candidatos são escolhidos quase sempre em primárias com um nível de participação altíssimo e que torna mais difícil a manipulação. Ou será o degradar das instituições e os erros sucessivos de governação que levam as pessoas a votar mais em candidatos populistas? Biden, Trump e Kamala são todos muito maus face à qualidade de tantos americanos que conhecemos e que infelizmente não estão disponíveis ou não têm a notoriedade necessária para vencer.
É de facto surpreendente e até inacreditável o nível dos candidatos americanos e das suas próprias alternativas. Sobretudo num país que tem tanta gente incrível, seja nas empresas, nas universidades ou mesmo na administração pública.
A beleza da política americana que inspirou tantas democracias por esse mundo fora está hoje transformada numa verdadeira tristeza americana. É a crise de meia idade da democracia dos Estados Unidos.
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