De raptados a menu de imigrantes em 48 horas: anatomia de um boato
Não é todos os dias que vemos um boato nascer perante os nossos olhos. Mas foi o que aconteceu com o caso dos “gatos do Barreiro raptados”, que, em menos de 48 horas, se transformou em “imigrantes andam a caçar e comer gatos no Barreiro”. Vamos aos factos. No dia 25 de junho, a Lusa enviou para as redações um take em que titulava que desapareciam “dezenas de gatos no Barreiro”. No início da notícia, já eram “centenas de gatos raptados por cidadãos não identificados”. Julgo que a utilização de “rapto” no contexto do desaparecimento animal tocou num nervo: a notícia, tal qual a Lusa a relatou, saiu um pouco por todo o lado, de jornais a sites de TV — uma cuidadora tinha ouvido testemunhos de que homens apanhavam gatos. Escrevo este texto 20 dias após a notícia ter mobilizado patrulhas de cidadãos a fazer vigílias noturnas e perseguições. Nem a polícia, nem a Câmara do Barreiro, nem o ICNF, que tem o pelouro dos animais errantes, têm qualquer dado de que esteja a decorrer ou tenha ocorrido qualquer “rapto de gatos”. O que não quer dizer que não haja decréscimos nas colónias. Mas “certa” internet (aquela que diz “abram os olhos”) tem a certeza de que são imigrantes que os estão a caçar para alimentação. “Os mesmos de sempre.” Os culpados disto tudo, portanto.
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