Opinião

Debate presidencial: uma desgraça ou uma oportunidade?

Debate presidencial: uma desgraça ou uma oportunidade?

Patrick Siegler-Lathrop

Presidente do American Club of Lisbon e autor de "Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Political System"

Na minha opinião pessoal, a conclusão é clara: o Partido Democrata tem que escolher outro candidato para concorrer em novembro. Será demasiado tarde? Claro que não

A equipa de Biden pediu este debate presidencial antecipado, para que Biden pudesse provar ao povo americano que era enérgico e empenhado, capaz de governar o país durante mais 4 anos, pondo de lado as preocupações partilhadas universalmente de que poderia estar demasiado velho para o cargo.

Biden falhou o teste, e não foi por pouco, falhou-o de forma desastrosa. Em vez de provar que tinha a energia e a resistência necessárias para o cargo, demonstrou o contrário, cambaleou, tropeçou - foi o desempenho de um homem que se aproxima da senilidade.

Trump não ganhou o debate na substância - a sua torrente de mentiras foi excessiva, mesmo vindo de alguém que estamos habituados a ouvir mentir - mas no que se refere ao estilo, ganhou facilmente, pois apresentou uma imagem de um artista articulado, agressivo e forte, e confrontando um Presidente fraco e hesitante que nunca foi capaz de aproveitar as múltiplas oportunidades que o seu adversário lhe deu para contrariar os seus ataques agressivos. Era "o Vigarista contra o Velho", e o Vigarista ganhou.
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O que é que isto significa para a América e para o mundo? Trump deu um enorme passo em frente para ser eleito em 2024. Mesmo antes do debate, as últimas sondagens mostravam Trump à frente de Biden nos mais importantes swing states, onde as eleições americanas serão decididas. Depois do desempenho no debate, a probabilidade de Trump vencer Biden em novembro torna-se esmagadora.

Como muitas das pessoas que preferem Biden a Trump, eu esperava que este debate fosse a oportunidade de Biden mostrar que estava à altura do cargo.

Não queria admitir o que os meus muitos amigos diziam, que Biden andava como um velho, falava como um velho, perdia o sentido como um velho, era claramente demasiado velho para se candidatar novamente à presidência. Queria que Biden lhes mostrasse que estavam enganados, que ainda tinha a força do Biden mais novo a que estávamos habituados no passado e que tinha confirmado mais uma vez no seu discurso sobre o Estado da União em janeiro deste ano.

Tal como muitos que partilham a minha opinião, fiquei chocado e desanimado com Biden com os seus comentários incoerentes, desde o início até ao fim do debate. O seu desempenho não só não refutou a opinião de que era demasiado velho para o cargo, como, de facto, provou sem margem para dúvidas que era demasiado velho, já com 81 anos, para um mandato que o levaria até aos 86 anos.

Na minha opinião pessoal, a conclusão é clara: o Partido Democrata tem que escolher outro candidato para concorrer em novembro.

Será demasiado tarde? Claro que não. A seleção oficial só intervém durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, de 19 a 22 de agosto, em Chicago.

Há outros bons candidatos? Muitos.

Então, o que é que tem de acontecer para que o candidato do Partido Democrata seja outro que não Biden? Biden tem de concordar em não se candidatar, libertando assim os delegados que o apoiaram durante as primárias para votarem noutros candidatos.

O principal argumento de Biden para justificar a sua recandidatura foi o facto de ser a pessoa mais capaz de derrotar Trump. Se as sondagens oscilarem ainda mais a favor de Trump, o que parece provável, será que Biden vai continuar a acreditar nisso? Será que a sua equipa se limitará a admitir que ele teve uma noite má, que ainda pode vencer Trump com base no seu sucesso como Presidente? Espero que não. Espero que Biden dê provas de sensatez e decida rapidamente não se candidatar para dar tempo ao Partido Democrata de selecionar e preparar um novo candidato a Presidente (e Vice-Presidente).

As eleições nos EUA realizam-se a 5 de novembro de 2024. Um novo candidato democrata escolhido pela Convenção no final de agosto teria todo o mês de setembro e outubro para aproveitar o facto de 63% dos americanos terem uma visão desfavorável de Trump, para construir com o apoio de Biden o sucesso da sua Administração, continuando as muitas políticas do Partido Democrata que a maioria dos americanos aprova.

Biden tem sido um excelente Presidente, aprovando legislação bipartidária de referência que os seus antecessores não conseguiram concretizar, mas, lamentavelmente, o facto de ter sido um bom Presidente não faz dele um bom candidato. Há alguma credibilidade na piada frequentemente partilhada, "o Partido Democrata escolheu em Biden o único candidato que Trump é capaz de vencer".

Se, como espero, ele perceber que é no melhor interesse do país ceder o seu lugar a um candidato mais jovem, então este debate, inicialmente visto como um desastre para os Democratas, provará ter sido a melhor coisa que poderia ter acontecido, para o Partido Democrata, para a América e para o mundo.

Patrick Siegler-Lathrop é um empresário franco-americano a viver em Portugal há 15 anos, autor de "Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Political System" e atual presidente do American Club of Lisbon. As opiniões expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor, não sendo de forma alguma atribuíveis ao American Club of Lisbon.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PSL64@icloud.com

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