Começou esta semana, oficialmente, o período de campanha eleitoral para as eleições europeias e parece confirmar-se que o debate é mesmo sobre as europeias. Se é verdade que a participação dos líderes nacionais, inevitavelmente, não deixará de trazer ao debate alguns principais temas do debate político nacional, também cada vez mais os temas locais têm sempre implicações ou são consequência de decisões tomadas no quadro da União Europeia.
No nosso caso dá-se hoje a feliz coincidência de termos a visita do Presidente da Ucrânia em pleno arranque da campanha eleitoral e isso não deve ser nem esquecido nem desvalorizado já que o que está em causa nesta guerra injusta são precisamente os valores europeus.
O nosso modelo político, os valores mais característicos do projeto europeu como o Estado de Direito, a separação de poderes, o respeito pelos direitos humanos, a igualdade de direitos e até o seu modelo social são precisamente aquilo que está em causa na guerra provocada pela Rússia.
Vivemos há tanto tempo no contexto da União Europeia que por vezes nem damos conta das diferenças entre o antes e o depois. Mas o que causa nesta guerra quase global é a escolha entre duas realidades políticas e democráticas. E é definidor sobre quem está a apoiar cada lado da barricada.
A este propósito não posso deixar de lembrar a surpresa que tive em Maidan, a 23 de dezembro de 2013, quando me juntei aos protestos dos jovens em Kiev contra um Governo repressivo, corrupto e não democrático que pretendia discretamente subjugar a Ucrânia a Moscovo.
Ao contrário do que esperava, sobretudo após tantos anos a trabalhar em Bruxelas e a visitar as diferentes capitais europeias, o local onde senti verdadeiramente as pessoas a vibrar pelos valores europeus foi em Maidan, Kiev. Não foi em Bruxelas, nem em Estrasburgo ou mesmo em Lisboa. Em Maidan, as pessoas lutavam não pelos euros da UE mas sim pela liberdade de circulação, pelo Estado de Direito, pela justiça ou pela separação de poderes. Este incrível exemplo de europeísmo marcou-me profundamente e foi até uma chapada de luva branca para aqueles que achavam que o interesse da Ucrânia estava simplesmente nos fundos comunitários e no apoio direto.
A grande mais valia da pertença à União Europeia não se mede em euros ou em riqueza, mas sim em doses de liberdade, de justiça, de igualdade de direitos, de acesso a cuidados de saúde e a um modelo social onde ninguém fica para trás.
E cada vez mais isso é o mais relevante. Viva a Europa.
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