A última semana ficou marcada pela polémica sobre a liberdade de expressão após mais um triste episódio com André Ventura e o Chega. Infelizmente não foi o primeiro nem será o último caso deste género num Parlamento que nos últimos anos tem sido contaminado com vários discursos maniqueístas ou de ódio, tanto à direita como à esquerda.
O Chega tal como Bloco de Esquerda são partidos que se alimentam, quais abutres, das fragilidades do sistema e da simplificação excessiva dos problemas e das suas soluções, normalmente conceitos conhecidos como populismo.
Se ninguém de bom senso pode concordar com as afirmações de Andŕe Ventura sobre o povo turco, até porque essa triste afirmação só revela ignorância e desconhecimento por parte do seu autor, já sobre a censura de que lhe deve ou não ser imposta, as opiniões dividiram-se.
Aguiar Branco decidiu no momento e entre censurar ou não, optou pela liberdade de expressão. E fez bem. Eu concordo com o instinto inicial de Aguiar Branco e acredito que se tivesse mais uns segundos para reflectir teria respondido “pode dizer, mas não deve”.
Alguns ficaram inicialmente chocados pelo contraste com Santos Silva. Enquanto o anterior PAR procurava cavalgar o discurso da extrema direita como rampa de lançamento para a sua candidatura presidencial, José Pedro Aguiar Branco combate de facto os extremismos. Enquanto Santos Silva incendiava a extrema direita, e fechava os olhos aos disparates equivalentes da extrema esquerda, Aguiar Branco trata todos por igual. Entre os tiques censórios, sejam de inspiração salazarenta ou soviética, eu prefiro sempre a liberdade de expressão, seja ela de Abril ou de Novembro.
Já o maniqueísmo evidente na cena política portuguesa, não é somente responsabilidade do Chega ou de André Ventura. Essa é tambem uma responsabilidade tanto dos partidos de esquerda como de direita, da luta entre os bons e os maus. Não tem havido um debate sobre as virtudes da esquerda ou da direita, mas sim um combate sobre os defeitos da esquerda ou da direita.
Chamar ladrões, corruptos, generalizar as pessoas e os partidos, lançar lama para cima dos políticos e dos partidos, é menos grave do que os dislates de André Ventura sobre o povo turco? Ofender outros povos é mais grave que ofender o povo português? Chamar a assassinos aos judeus é menos grave que chamar assassinos aos terroristas do Irão, da Palestina ou do Paquistão? Generalizar judeus é tão errado como generalizar muçulmanos. Generalizar russos é tão errado como achar que os ucranianos ou os portugueses são todos inocentes. Generalizar é o erro.
Será que o discurso do ódio está apenas na boca do Ventura? Ou tem sido cultivado por um ativismo político e ideológico que ofende quem não concorda, ou simplesmente não alimenta e não se mete ao lado de movimentos que defendem causas inovadoras, fracturantes na nossa sociedade? Sim, se calhar o discurso do ódio está afinal em cada esquina e por vezes nem nos vemos devidamente ao espelho.
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