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Opinião

O grande fracasso

É muito revoltante confirmar que 50 anos de democracia não mudaram a estrutura de poder da sociedade, simbolizada pelo tal ranking: as melhores escolas são as dos privilegiados da Foz e da Linha, a pior é a do meu morro que cerca Lisboa

No dia em que saiu o mais recente ranking das escolas, eu estava no estúdio da Renascença para comentar essa notícia, mas ainda desconhecia um detalhe decisivo, que foi ali avançado pelo Sérgio Costa a título de curiosidade. Para o Sérgio e para toda a gente era uma curiosidade, para mim era uma bigorna na cabeça: a escola com o pior resultado à escala nacional é a escola da minha rua; a Cardoso Pires fica ao fundo da rua da última casa que partilhei com os meus pais. Tentei ser profissional, mas acho que não consegui esconder a raiva e a tristeza. Sim, uma tristeza resignada, porque não me surpreende. Sim, uma raiva, porque é muito revoltante confirmar que 50 anos de democracia não mudaram a estrutura de poder da sociedade, simbolizada pelo tal ranking: as melhores escolas são as dos privilegiados da Foz e da Linha, a pior é a do meu morro, que cerca Lisboa de oeste para norte e que junta Amadora, Odivelas e Loures. Esta colina, outrora a parte mais alta do aqueduto, é a prisão com a melhor vista do mundo: nós, lá em cima, vemos a cidade cá em baixo, mas sentimos no estômago que nunca passaremos pelos portões. E, estando eu por aqui há já alguns anos, posso acrescentar outro ponto: além dos pesados portões que é preciso empurrar, temos de lidar com demasiados porteiros. Os porteiros sociais da direita que te cobram a ausência do apelido certo; os porteiros ideológicos da esquerda que te cobram a ausência das ideias certas.

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