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Opinião

O dique cedeu

Se o PS ficar paralisado por abstenções violentas, o Chega lidera a oposição e a alternativa. No dia em que tiver mais um voto do que um dos grandes, o sistema partidário muda para sempre. Não ficará tripartido. Será entre o partido charneira e a extrema-direita. Sem alternativa democrática ao poder vigente, a extrema-direita torna-se candidata à alternância

O lusotropicalismo revisitado, que nos fazia acreditar que estávamos protegidos da extrema-direita, desafiava a nossa história. E desafiava os números. No “European So­cial Survey”, 62% dos portugueses manifestam visões racistas da sociedade. Mais de 60% não confiam no Parlamento, um valor acima da média europeia, e, de acordo com um estudo de Alice Ramos e Pedro Magalhães, cerca de 70% aceitariam uma liderança forte, mesmo que “não tenha de se preocupar com o Parlamento e as eleições”. É a tese de Vicente Valentim, que entrevistei no “Perguntar Não Ofende” e que publicará brevemente um livro sobre a normalização da direita radical: as ideias já lá estavam, só esperavam ser eleitoralmente ativadas por um político hábil. E o mais interessante é a análise que o politólogo faz do comportamento eleitoral destes partidos. Por despertarem um “gigante adormecido”, como lhe chamou Pedro Magalhães, eles tendem a crescer muito rapidamente até estabilizarem. A partir daí, podem ter subidas e descidas, até mortes e ressurreições, como nos Países Baixos. Mas não se regressa ao passado. Normalizados, atraem políticos mais competentes e a direita tradicional acaba por naturalizar as relações com eles. E na disputa por eleitores absorvem parte da sua agenda — o discurso de Passos Coelho já é mainstream na direita europeia.

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