Do alto do seu ressentimento, o povo do PCP julgava que tinha uma superioridade moral, a superioridade moral da vítima. Ventura usa essa estratégia para uma nova geração. Portanto, é curioso que a extrema-direita use o termo “marxismo cultural” para criticar o politicamente correto da esquerda, porque o verdadeiro e letal marxismo – o ódio de classe social – é hoje a faca que o Chega usa para rasgar a sociedade portuguesa
Não se percebe esta nova extrema-direita sem um detalhe: é esta direita radical que está a fomentar uma nova luta de classes – e não a esquerda, que esqueceu a pobreza e os pobres (brancos) em nome do dogmatismo woke – uma variação do individualismo libertário como têm dito tantos autores como John Gray ou Darren Mcgarvey. Ao contrário do que nos foi dito pela direita libertária e pela esquerda à Clinton, as diferenças de classe são insuperáveis; são a variável decisiva numa sociedade – vem no Evangelho, meus caros. Quer isto dizer que o ódio e a luta de classes é inevitável? Não. Com a atitude certa do ponto de vista intelectual e político, essa guerra social pode ser congelada ou mesmo extinta. Contudo, se esquecemos a pobreza e a classe social, então essa luta vem ao de cima e põe em causa a democracia e a liberdade, porque arregimenta um povo que odeia de raiz ou passa a odiar a sociedade aberta. Ventura, seguindo um manual da direita radical internacional, está a fomentar este ódio, esta espécie de "racismo" social.
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