Exclusivo

Opinião

A morte dos comunistas

A morte dos comunistas

Clara Ferreira Alves

Escritora e Jornalista

Podem ser alinhadas várias interpretações exóticas para a derrota eliminatória, desde o apoio ao PS à mudança da liderança, mas o nó do problema não é esse. No século XXI, o coletivismo comunista, num mundo onde o comunismo se converteu ao capitalismo selvagem, não faz sentido. Não fazia sentido

Para quem assistiu à dominação dos comunistas na cena política durante décadas, a noite das eleições foi histórica. O PCP acabou. Este é o facto político determinante. E não só acabou, acabou e morreu, ensanguentado, às mãos do Chega e da extrema-direita. O PCP não governa o Sul, não governa os bastiões comunistas, não elegeu, suprema ironia e, para o partido, tragédia, um deputado em Beja. O coração seco do Alentejo. É histórico.

Podem ser alinhadas várias interpretações exóticas para a derrota eliminatória, desde o apoio ao PS à mudança da liderança, mas o nó do problema não é esse. No século XXI, o coletivismo comunista, num mundo onde o comunismo se converteu ao capitalismo selvagem, não faz sentido. Não fazia sentido.

O PCP permaneceu fiel às esquecidas origens marxistas reformadas pelos estalinistas, não deu por um mundo composto de mudança. Não tinha discurso, não tinha modelo de sociedade, e não tinha uma ideologia coerente, tinha apenas a famosa cassete. Sempre a mesma cassete, rodando a fita num gravador que não se usa, que ficou obsoleto, que não soube prever e acautelar que nem na era do VHS estamos. O PCP ficou, na sua irremediável solidão, no princípio da era analógica, sem compreender a era digital. Repetindo slogans sem sentido, a favor dos trabalhadores e contra o capitalismo e as multinacionais. Pelo contrário, ter sido a bengala do PS apenas adiou a sua morte. Sem o encosto ao PS, o PCP estaria ainda mais morto. E mais distante da realidade. Nunca compreendeu a era digital ou soube o que trazia. Nunca compreendeu que a sua teorização do mundo não tinha mundo aplicável. Que nem a sua Rússia, ou China, ou Cuba, ou Nicarágua, ou Venezuela, eram comunistas. Eram só ditaduras.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate