Numa análise um tanto suspeita, dada a organização que presido, fiz algumas contas rápidas e constatei que a idade média dos líderes partidários em Portugal é de 46 anos. Isso sugere uma clara transição geracional, cedendo lugar a uma nova geração. Embora a presença de jovens nas esferas de decisão tenha diminuído em muitos casos, espero que esta transição seja benéfica.
No entanto, enquanto Presidente do Conselho Nacional de Juventude, reflito diariamente acerca do papel que o jovens podem ter e a forma como muitas vezes ficam à porta, à espera que os guardiões da democracia tenham disponibilidade para a abrir e deixar entrar um ou outro ou até que envelheçam o suficiente para poderem ter esse direito. O objetivo destes textos tem sido outro e assim vou continuar. Pretendo que sejam reflexões acerca de áreas essenciais, que na visão de um jovem precisam de reformas e por isso, hoje começo por direcionar o meu foco a um outro tema: quem, aos dias de hoje, quer e está verdadeiramente disponível para exercer funções políticas?
Da mesma forma que vimos novas caras a ser apresentadas nas listas candidatas à Assembleia da República, também tivemos a oportunidade de ver políticos experientes recusar-se a participar, incluindo um ministro com reconhecimento profissional fora da política, que classificou a experiência governativa como não sendo das melhores que experienciou.
Estes são sintomas de que a nossa democracia enfrenta profundos problemas, como as generalizações. Quem nunca ouviu dizer que todos os que estão na política são maus ou merecedores de desconfiança? Ou por exemplo, que todos os que têm rótulo partidário ou de jotas são automaticamente incapazes…e não quero com isto dizer que não são precisas alterações no modelo de funcionamento dos mesmos, considero-o essencial, contudo isto serve para dizer que nem a competência, nem a falta da mesma, está apenas nas pessoas com um cartão e que por isso, o critério de seleção para o Estado não deve ser outro que não o da capacidade para desempenhar as funções a que se propõe.
Um outro problema é o extremar e o respeito (ou falta dele) que muitos líderes, mesmo os tipicamente mais “moderados”, têm adotado, sendo até estranho, pois no passado, quando os portugueses tinham menor formação, o mesmo era mais elevado. Tendo sido feito um percurso de normalização da linguagem dramática, como se tudo e todos estivessem no inferno ou no paraíso.
Nos últimos meses, vimos partidos envolvidos em processos judiciais complexos e com decisões controversas, que motivaram uma indesejada transferência dos tribunais para as ruas, colocando em causa a credibilidade das organizações perante o povo. Não deveriam normalizar haver pessoas que preferem ficar de fora, porque não querem correr o risco de alguma vez serem “suspeitas” - que aos dias de hoje é sinónimo de culpado no espaço público.
Da mesma forma,o sistema não deveria permitir que a comunicação social saiba de uma acusação previamente ao suspeito da mesma, gerando alarido e espetáculo em volta de uma detenção.
Fico preocupado. Acima de tudo, preocupado pelo país, que por um lado perde certamente pessoas que poderiam ter sido políticos de excelência, mas que preferem ficar de fora deixando, potencialmente, o lugar a outros que podendo não ser os melhores do melhores, são quem está disponível
Fico preocupado com a armadilha perfeita que criamos: a impossibilidade de errar que em conjunto com a nossa burocracia administrativa e a necessária reformulação da administração pública, deixe paralisado os honestos e brinde os espertos, porque sabem precisamente por que buracos saltar.
Fico preocupado com a justiça, um elemento base da organização de um estado de direito, que se por um lado demonstra hoje que ninguém está acima da lei, perseguindo mesmo os intocáveis, mostra também erros graves e promove indesejados julgamentos em praça pública.
Por todos estes motivos e muitos mais, é urgente, com seriedade, reformar o nosso sistema democrático, desde o modelo de voto, que levará a uma reforma de todos os partidos, até à justiça e à educação, promovendo o debate em sociedade.
Por estes dias de campanha, relembravam-me da seguinte afirmação de um antigo presidente dos Estados Unidos: grandes mentes discutem ideias, mentes comuns discutem acontecimentos e mentes pequenas discutem pessoas. Posto isto, deixo o desafio de refletirmos todos ao longo destes dias: o que mereceu atenção mediática? E das nossas lideranças? Quantos nos afastamos pela discussão não ser também a das ideias, mas apenas a dos casos e das pessoas?
A democracia é assim, difícil, requer compromisso, atenção, educação e transparência. Numa altura em que falamos sobre extremismos, riscos e ameaças à forma de governo que escolhemos para nós, há 49 anos e 11 meses, eu relembro também, sendo clara a responsabilidade que recai sobre os ele, o fardo que é colocado sobre os eleitores. Devemos ser exigentes com a gestão da atividade pública e compreender que nunca será perfeita, mantendo presente que a polarização, a separação radical entre o campo dos “bons” e o dos “maus” raramente trouxe resultados positivos.
Por fim, deixo um apelo a uma forte participação no próximo dia 10 de março.
O país precisa.
Ao longo das últimas semanas, Rui Oliveira escreveu sobre os temas que o Conselho Nacional da Juventude, enquanto órgão representante dos jovens, identifica como prioritários no pós-eleições: Salários e Oportunidades, Habitação, Coesão Territorial, Saúde, Educação e Democracia.