Opinião

É obrigatório o aumento do salário médio

Rui Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Juventude

Rui Oliveira

Presidente do Conselho Nacional de Juventude

“Não podemos ser um país que normaliza que uma pessoa que trabalha 8 horas por dia, 5 dias por semana, possa ser considerada pobre, sem capacidade para procurar uma casa e com medo que o dinheiro que ganha possa não ser suficiente na fila de um supermercado”, diz o presidente do Conselho Nacional da Juventude

Ao longo destes dias são várias as vezes que me perguntam: “E depois de 10 de março? O que achas que vai acontecer?” E foi na reflexão de uma resposta a esta pergunta que decidi criar um conjunto de crónicas em que mais do que refletir sobre este período eleitoral em concreto, na espuma da mais recente história ou novidade, foco a minha atenção no que terá que acontecer no dia a seguir.

No dia 11 março, os nossos eleitos terão de se debruçar sobre matérias basilares, e a tendência serão as respostas a curto prazo, mas dia 11 é obrigatório que seja diferente: terão de ser capazes de cocriar as respostas, onde se partilhe o sucesso e a responsabilidade, imunizando para a política da terra queimada, a que a mudança de rostos ou cores sempre nos levam.

Serão seis os temas abordados e hoje começo com o que considero mais central: os salários e as oportunidades!

Nos últimos anos, Portugal tem enfrentado desafios económicos que têm impacto direto na vida dos trabalhadores. As guerras e as crises com o consequente aumento dos custos de vida e a globalização com a necessidade de manter uma força de trabalho altamente qualificada e competitiva, torna urgente repensar as políticas salariais.

O aumento dos custos de vida tem sido uma realidade incontornável para muitos portugueses. O encarecimento dos bens essenciais, da habitação e dos serviços básicos tornou-se um fardo financeiro significativo para muitas famílias. Não podemos ser um país que normaliza que uma pessoa que trabalha 8 horas por dia, 5 dias por semana, possa ser considerada pobre, sem capacidade para procurar uma casa e com medo que o dinheiro que ganha possa não ser suficiente na fila de um supermercado.

O aumento do salário mínimo nacional é uma medida que visa melhorar as condições para os trabalhadores de rendimentos mais baixos, aproximando-nos dos padrões europeus e garantindo vidas mais dignas para todos os trabalhadores portugueses.

Contudo, no mundo globalizado que vivemos, garantir um salário mínimo condigno está longe de ser o suficiente. Nos dias de hoje, as nossas empresas não competem apenas entre si, mas também com todas as outras, da Europa em particular, mas do mundo em geral.

Ao mesmo tempo, a competitividade de um país está intrinsecamente ligada à qualificação da sua população. Investir na educação e formação dos jovens é uma estratégia crucial para garantir uma posição forte no cenário internacional. No entanto, a retenção desse talento deve ser uma prioridade na mesma medida. Garantir que os trabalhadores qualificados permaneçam no país exige oportunidades de carreira, com condições salariais atrativas.

O atraso histórico na educação veio a alterar-se na minha geração e na anterior, contudo, os decisores das organizações públicas e privadas precisam de corresponder, criando as oportunidades salariais e de carreira, para que os jovens possam escolher Portugal.

Desta forma, é obrigatório o aumento do salário médio, e aqui na dificuldade de o mesmo não ser por decreto, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ)tem vindo a defender medidas como:

● O fim da caducidade da contratação coletiva, e a reintrodução do princípio do tratamento mais favorável, é essencial para os trabalhadores não perderem condições e para permitir que setores ou empresas possam definir salários base, não impedindo que um contrato individual, logo que com melhores condições, possa ser celebrado.

● A alteração das tabelas de IRS, com um alívio significativo nos valores do salário médio e tendo em vista a subida pretendida. Não podemos querer reter talento em Portugal em relação à Europa e considerar que 2500€ deve ser taxado como um salário alto.

● O aumento do valor dos estágios, no correspondente ao valor da contribuição para a segurança social. Em abril de 2023, estes passaram a estar abrangidos pela Segurança Social, realizando descontos para a mesma, o que é positivo. Ainda assim, jovens que já tinham más remunerações, passam a levar ainda menos para casa.

Por último é preciso pensarmos coletivamente na integração deste talento nas organizações. Como disse, os salários são essenciais, mas também é preciso pensar em carreiras, é preciso pensar a relação vida/trabalho e se queremos uma verdadeira transição do conhecimento para a economia, é necessário desenvolvermos a comunicação intergeracional, onde a experiência dialoga com a energia e inovação e, conjuntamente, se constrói e aqui, temos todos que melhorar.

Em suma, o crescimento de Portugal passa por garantir melhores remunerações e mais oportunidades, pois só assim retemos talento e criamos uma economia competitiva.

Ao longo das próximas seis semanas, Rui Oliveira escreve sobre os temas que o Conselho Nacional da Juventude, enquanto órgão representante dos jovens, identifica como prioritários no pós-eleições. Depois dos Salários e Oportunidades, seguir-se-ão, Habitação, Educação, Coesão Territorial, Saúde e Democracia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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