Qual é a sua identidade de liderança?

As decisões que tomo e escolhas que faço são consistentes com o tipo de líder que pretendo ser? Será que os meus valores pessoais estão alinhados com os da organização que sirvo? Em que medida sou capaz de gerir as tensões geradas por paradoxos, como ter de gerir resultados de curto-prazo e ao mesmo tempo assegurar a sustentabilidade do negócio no médio e longo prazo? Em que medida procuro aprender deliberadamente novas realidades e perspetivas do mundo para compreender melhor os problemas que surgem todos os dias na minha organização? Em que medida crio ambientes e momentos especiais, alinhados com o que acredito ser a cultura corporativa ideal? Sou uma pessoa consciente das minhas forças e fraquezas, sejam estruturais ou contextuais?

Poderia elaborar muitas mais questões para refletir sobre o tipo de líder tenho sido ao longo dos anos. Mas pensando numa perspetiva futura, vale muito mais a pena refletir sobre que tipo de líder que pretendo ser. E por isso a pergunta que quero fazer é: Qual é a minha identidade de liderança?

Qualquer que seja a nossa resposta, existe algo que temos de assegurar se pretendemos construir e manter uma identidade de liderança – consistência. Esta consistência é o resultado de escolhas e decisões coerentes e repetidas, construindo uma perceção de todos os stakeholders do nosso sistema sobre essa mesma identidade. Quanto mais esta identidade for construída considerando os nossos valores pessoais, as nossas crenças, as motivações, competências, mais fácil será a construção desta identidade. Quanto mais tentar construir uma persona que pretende apenas satisfazer outros stakeholders, mas não a si, a taxa de esforço para chegar ao seu destino será muito maior e a ausência de autenticidade que todos esperam de um líder dos tempos modernos será apenas uma miragem.

Escolher o tipo de líder que pretende ser exige fazer escolhas nem sempre fáceis. Quero ser um supervisor mais focado em fazer e em coordenar? Quero ser um líder coach que assume um papel de parceiro na resolução de problemas e desenvolvimento de competências da minha equipa? Ou quero ser um mentor, que apoia a equipa através da sua própria experiência passada? Provavelmente a resposta é: “as três opções são importantes”. Mas criar uma identidade exige consistência e predominância de uma opção. Escolher exige fazer cedências.

Quero exercer o poder que me foi concedido de forma formal? Ou quero influenciar as pessoas à minha volta sem que tenha de utilizar a minha posição para tal? Uma vez mais, não é uma escolha fácil, mas a consistência exige ter de optar. Construir uma identidade de liderança é importante. Porque oferece alguma previsibilidade num mundo imprevisível. Oferece uma estabilidade invisível à organização. Permite que o líder desempenhe a sua missão de forma mais natural.

Para o líder é um percurso longo que exige, na minha opinião, três características: coragem, ambição e empatia. Coragem para perseguir deliberadamente a pessoa e líder que pretende ser, mesmo que isso exija desconstruir a personagem que construiu ao longo de anos. Ambição para inspirar as pessoas a perseguir um propósito com que todos se identifiquem e que queiram perseguir em conjunto consigo. E empatia para não deixar nunca ninguém para trás, reconhecendo que nunca vamos conhecer todos os desafios das pessoas que fazem parte da nossa equipa.

Qualquer que for a sua escolha, procure criar as condições à sua volta para que a sua identidade de liderança seja aplicada com mais naturalidade. Tenha as pessoas certas à sua volta, e que tenham coragem para o ajudar a ser um melhor líder. Aceite que não vai conseguir ser sempre o líder que deseja ser. Mas não deixe de tentar todos os dias, com pequenas ações, decisões ou escolhas que o coloquem mais perto do que acredita ser a sua identidade. Porque pessoas felizes, fazem mais, melhor e durante mais tempo.

* Este artigo foi desenvolvido no âmbito da iniciativa Nova SBE VOICE Leadership