Opinião

Portugal, a Europa e os Idos de março

Só haverá futuro para os portugueses no seio de uma União Europeia forte, mas que garanta e salvaguarde a diversidade. Uma União de povos e nações, sem quimeras federalistas, que não seja uma mera extensão orgânica, burocrática, opressiva, de um qualquer novo império ou superestado europeu

Idos de março (em latim: Idus Martiae) era o setuagésimo quarto dia do calendário romano que, atualmente, corresponde a 15 de março. Data que foi posteriormente integrada em diversas cerimónias religiosas, tornando-se conhecida, em 44 a.C., como o dia do assassinato de Júlio César. Desde aí, transformou-se num marco na história da Europa.

Entre nós, o próximo dia 15 de março, será na semana seguinte ao ato eleitoral que definirá o futuro próximo do país. Será igualmente, assim o esperamos, uma nova oportunidade para ajudar a construir o nosso caminho na Europa. Tanto mais que, seguidamente às legislativas teremos, a nove de junho, também eleições europeias.

Torna-se, pois, fundamental que todos os partidos e respetivos candidatos às próximas eleições legislativas aproveitem este período para se expressarem sobre qual modelo de União Europeia preferem. Qual o papel que esta deve ter no mundo. E, finalmente, qual o relacionamento adequado de Portugal com essa mesma União, em todas as dimensões da vida política, económica, social e cultural.

A fim de ilustrar a pertinência desse debate vejamos, ainda que aleatoriamente, apenas alguns exemplos:

A integração dos imigrantes e refugiados; a guerra na Ucrânia; a autonomia estratégica e a segurança das fronteiras; a logística e o abastecimento energético e alimentar; a relocalização industrial e os custos sociais das transições ambientais e energéticas; o rescaldo do fim da compra de dívida pelo BCE, com o consequente fim dos juros baixos; a indispensável harmonização tributária das empresas; a gestão da subida extraordinária da inflação; a renegociação das regras orçamentais da zona euro; as relações com os USA, a China, a Rússia e a Índia; o futuro do Médio Oriente e da África; a luta contra o terrorismo e o crime organizado; a segurança no novo espaço digital; ou por fim, mas não menos importante, a existência uma defesa europeia.

Será que aos portugueses nada disso interessa? Será que o assumido consenso ao centro sobre política externa, torna irrelevante a discussão de diferentes pontos de vista sobre todos estes temas? Ou tal acontece apenas porque os assuntos meramente domésticos são mais apelativos ao voto?

Infelizmente, quem não promete o sonho, a solução imediata de curto prazo, o ressentimento, contra um qualquer bode expiatório, dificilmente obtém resultados para governar, pois os eleitores continuam viciados na promessa e poucos são os políticos em campanha que resistem a essa grande tentação.

A sociedade, as famílias, os indivíduos, porém, não se alimentam apenas do sonho, da utopia ou do ressentimento. Necessitam, isso sim, de confiança e esta não se sustenta só nas promessas de curto prazo. Essa confiança alimenta-se de medidas estruturais que construam um quadro regulador justo, exigente, mas simultaneamente razoável e compreensível.

Só haverá essa confiança, só haverá futuro para os portugueses, no seio de uma União Europeia forte, mas que garanta e salvaguarde a diversidade. Uma União de povos e nações, sem quimeras federalistas, que não seja uma mera extensão orgânica, burocrática, opressiva, de um qualquer novo império ou superestado europeu.

No fundo, e esse é o ponto que quero sublinhar, o sucesso ou insucesso da união Europeia, das suas instituições e das suas políticas, significará também uma melhor ou pior qualidade de vida para os portugueses. Assim todos aproveitem os próximos tempos, até ao Idos de março, para promover o imprescindível debate sobre Portugal na Europa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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