António Costa é sério candidato a Nobel da Paz. De uma vez, acabou com a guerra na Ucrânia e com os bombardeamentos em Gaza. Mas, em compensação, é responsável por uma série interminável de perguntas patéticas feitas aos advogados de defesa. Acredita na inocência do seu constituinte? A investigação foi bem conduzida? Há explicações para a matéria apurada? Curiosamente, não vi, mas pode ter sido distração minha, alguém perguntar se os tais 75 mil euros constavam de alguma declaração de IRS.
Claro que podiam ter um grande scoop (a expressão anglo-saxónica perde força se traduzida), se apanhassem algum advogado maluco que lhes dissesse “os investigadores são uns nabos, não apanharam nem metade do que ele gamou e até matou as testemunhas”.
Desiludam-se, não façam mais perguntas destas, que nunca ouvirão a tão desejada resposta.
Esta convicção dos nossos canais de notícias de terem de encher as 24 horas com o tema que “está a dar” — e de que se as outras estão a fazê-lo, então temos de fazer o mesmo, mas melhor — tem um preço elevado. Não há quem faça melhor, apenas quem faça pior.
Pobres repórteres, que são mandados para queimar tempo. Sim, eu sei, todos os jornalistas mobilizados para serem pés de microfone nas várias portas do poder custam muito menos que um enviado a Israel. E estão no ar muito mais tempo, nem que seja para dizer “aqui ainda não há novidades”.
Os canais de TV parecem convictos de que os espectadores não conseguem andar e comer pastilha elástica. Uma coisa de cada vez, apenas.
Em pouco tempo, passaram das 24 horas sobre a Ucrânia, com imagens mil vezes repetidas com as crateras abertas por mísseis russos, para imagens panorâmicas sobre bairros destruídos pelas forças de Israel.
Depois chegou a demissão de Costa e tudo o mais foi engolido . Mostram a fachada do prédio onde mora o ministro Galamba e sucessivos painéis de comentadores elaboram sobre “cenarizacões”, inventam o futuro, esquecendo que o essencial do jornalismo é contar o passado.
Qual quê, nada como prever o que alguém irá fazer e as consequências que terá, e depois debater porque, afinal, nada foi de acordo com as avisadas previsões. Bom mesmo é andar em chusma à volta do Presidente, naqueles passeios que ele faz nas ruas de Belém por entre a floresta de microfones, para o ouvir dizer que não diz.
Ou fazer uma espera em São Bento, a ver se o primeiro-ministro abre a janela do carro. Ou ficar à porta de um ministro a aguardar que ele vá às compras. Mas que esperavam ouvir da boca deles?
24 horas é muito tempo para encher com um só tema - com o assunto que garante audiência.
Os generais que estiveram no campo de batalha ucraniano e tinham passado para a faixa de Gaza foram aniquilados por politólogos e comentadores.
Os espaços de informação, esquecendo o ensinamento de Sherlock Holmes - teorizar sem informação é disparate -, transformam as emissões em sucessivos workshops sobre tricas políticas e afastam-nos do mundo que anda por aí. E, como já alguém disse, a comunicação social condiciona muito mais as sociedades com o que não diz do que com aquilo que mostra.
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