Cada vez mais me convenço de que a privacidade, enquanto valor, é um conceito ultrapassado
Do que valorizamos, nada será tão inútil como o dinheiro. Não o consumimos. Não o usamos para produzir nada. Toda a sua utilidade baseia-se numa crença: acreditamos que o podemos usar para comprar coisas que são úteis. O equilíbrio é frágil. Se os outros deixarem de aceitar os euros como pagamento, as notas que temos na carteira perdem o seu valor. Pode parecer rebuscado, mas a verdade é que já muitas moedas deixaram de existir por esse motivo: deixou-se de acreditar na ficção de que aquela unidade monetária valia alguma coisa.
Dizer que a moeda é uma ficção não é original. Ainda há uns meses, Yuval Harari, em entrevista a Steven Levitt, usou essa metáfora. A ficção, frágil como é, tem de ser alimentada. Talvez por isso os ingleses estampem a foto do rei nas suas libras. Os americanos escrevem nas suas notas “In God We Trust”. Já nós, até aos anos 80, dizíamos que as notas valiam ouro. Por exemplo, numa nota de 100 escudos estava escrito “Cem Escudos Ouro”, dando a entender que àquela nota havia uma quantidade de ouro correspondente depositada no Banco de Portugal. Fantasia.
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