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Opinião

O meu Michael Gambon

Muitos actores conseguem facilmente vários destes registos, mas os responsáveis por “O Detective Cantor” só se lembraram de um que fosse capaz de os fazer todos bem

Era adolescente quando “O Detective Cantor” passou na TV. E lá em casa entrou logo no cânone catódico, mesmo com aquele tom desagradável e aquele Job amarrado a uma cama de hospital com psoríase artropática.

Desfigurado pela doença, internado, imóvel, o protagonista, o chandleresco Philip Marlow, reescreve na cabeça as suas histórias policiais, interage com quem o rodeia e tem alucinações com canções populares, quase todas, por contraste, nostálgicas, inocentes ou sentimentais. Muitas características de Marlow são as do argumentista da série, Dennis Potter, das maleitas físicas à fixação na infância, do trauma sexual à ambiguidade quanto à cultura de massas. Além de testar os limites da autobiografia, Potter quis contrariar o sentido de “orientação” que as pessoas procuram na ficção, deixando que o espectador ficasse tão desorientado como a personagem principal. E para isso usou uma complexa estrutura narrativa, saltos no tempo, cenas imaginadas, coreografias, cançonetas como madalenas de Proust.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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