As pantomimas ruidosas contra os combustíveis fósseis são uma curiosa revivescência do teimoso ódio à modernidade
A visão de Salazar sobre Portugal é geralmente tida por paroquial, e isto por muitas e boas razões. Sucede que o “paroquialismo” de Salazar tende a ser, erradamente, atribuído aos horizontes estreitos de um beirão arrancado à ruralidade mais tacanha, que aterra em Coimbra como se aterrasse em Paris, e, em mais de três décadas de chefia do Governo, só uma vez põe os pés no estrangeiro, por sinal um estrangeiro também ultraperiférico e bem representativo da civilização atrasada onde, segundo Voltaire, vegetavam os cafres da Europa. Tudo isto terá enformado certamente os instintos e a sensibilidade do ditador.
Mas o paroquialismo de Salazar tem — e é o menos que se pode dizer — uma raiz intelectual e perfeitamente cosmopolita, dado que se integra no ultramontanismo que, desde a Revolução Francesa, contesta a modernidade como um todo e que, nos finais do século XIX, ressurge com força por toda a Europa.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt