Ativismo climático? Uma lufada de ar fresco

Os jovens manifestantes cumpriram o seu objetivo: gerar conversa em torno da crise climática. Se a EDP e a Galp fazem parte do problema, certamente fazem parte da solução
Os jovens manifestantes cumpriram o seu objetivo: gerar conversa em torno da crise climática. Se a EDP e a Galp fazem parte do problema, certamente fazem parte da solução
Engenheira do Ambiente
O protesto desta terça-feira surgiu na semana em que a EDP anunciou a inauguração da sua maior central fotovoltaica na Europa e a Galp anunciou as obras na refinaria de Sines para construção de uma unidade de hidrogénio verde e produção de biocombustíveis.
Todos sabemos que estas empresas (as principais responsáveis pelas emissões de GEE em Portugal) operam a um ritmo que não corresponde à urgência da crise que enfrentamos.
Uma lufada de ar fresco, digo eu.
Acredito que a maioria das pessoas não vai conseguir ver além do protesto e vai-se sentir indignada, pois, em Portugal são raros os que estão dispostos a enfrentar as consequências de se opor aos grandes lóbis.
Daí a importância dos estudantes, despretensiosos, sem vínculo profissional, sem medo de ser despedidos. Todos nós já estamos fartos de ver manifestações pacíficas e marchas pela Avenida da Liberdade que nem fazem os ministros pestanejar.
Nada muda e estes jovens estão fartos de sentir que o futuro está nas mãos dos grandes interesses.
Ora, voltando à questão do dia 26 de Setembro, em primeiro lugar concordo com os jovens na medida em que não deve ser, certamente, a EDP e a Galp a patrocinar conferencias em que se discute a transição climática. Desta forma nunca se irá ver um discurso imparcial e com vista à resolução de problemas. Quase que faz lembrar as conversas à moda do Big Oil nos Estados Unidos.
Contudo, devo discordar com o discurso de que a EDP e a Galp não devem ser incluídas nesta conversa. Ora, se fazem parte do problema, fazem certamente parte da solução! Não se resolvem problemas sistémicos sem o envolvimento de todas as partes interessadas relevantes, e estas empresas são certamente chave no que diz respeito à Transição Climática em Portugal.
Em suma, as manifestações são (ou devem ser) por natureza disruptivas, caso contrário não trazem qualquer impacto.
O que é certo é que estes jovens conseguiram cumprir o seu objetivo: gerar conversa em torno da crise climática. Agora pergunto: vamos todos continuar a tapar o sol com a peneira?
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