As afirmações do matador de touros Pedro Roque Silva, conhecido como “Pedrito de Portugal”, na rubrica “Geração 70” do jornal “Expresso” dispensam apresentações, pois depressa percorreram as redes sociais, pelo seu absurdo e negacionismo, mas também pela gravidade das acusações falsas e graves a respeito do PAN e dos ativistas que se dedicam à proteção animal.
Numa narrativa incompreensível, Pedro Roque Silva procura justificar o ato de matar e torturar um touro ao afirmar que este não sofre dor durante a tourada. Ora, esta narrativa mirabolante nega o amplo consenso que existe na comunidade científica, que reconhece a capacidade dos animais de sentirem dor quando sujeitos a agressões como as infligidas numa corrida de touros. Este reconhecimento está, aliás, presente na legislação portuguesa. São exemplo a Lei de Proteção aos Animais ou o Estatuto Jurídico dos Animais, introduzido no Código Civil, e que reconhece que “os animais são seres vivos dotados de sensibilidade”.
Mas Pedro Roque Silva prossegue no absurdo. Diz então que matar e torturar um animal e fazer disso forma de vida é um “desígnio de Deus”. Vai inclusive ao ponto de defender que as touradas irão acabar “quando Deus quiser”! Melhor do que eu, haverá especialistas que possam explicar a dissonância cognitiva presente nesta narrativa. É que, se realmente Pedrito de Portugal é crente e acredita que só Deus pode dar e tirar a vida, como explica a incoerência e hipocrisia de achar também que pode tirar a vida e massacrar qualquer ser da criação, incluindo os animais?!
Neste sentido, e tendo em conta a fé que invoca, recomendo a Pedro Roque Silva que leia a Encíclica Laudato Sí, onde Sua Santidade, o Papa Francisco, afirma que “O poder humano tem limites e é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas”.
A banalização ou normalização da violência tem causado um sofrimento inqualificável aos touros e cavalos envolvidos e a morte de várias pessoas nas largadas. A violência é tal que já levou a que o Comité dos Direitos das Crianças da ONU pedisse a Portugal – por três vezes! – para afastar as crianças e jovens das touradas.
A tauromaquia é um erro histórico e civilizacional, que o legislador tem tardado em corrigir. As touradas nunca foram uma atividade consensual no nosso país e por quatro vezes estiveram proibidas – em 1578, 1809, 1836 e 1919 – acabando por ser reativadas no Estado Novo com a justificação de que, ao contrário da tourada espanhola, deste lado da fronteira o touro não sofre.
Tanto eu quanto todos os ativistas que há anos se manifestam em frente ao Campo Pequeno ou em qualquer outra praça de touros do nosso país fazemo-lo por um imperativo ético de compaixão e respeito pelos animais. Não porque seja recebida qualquer quantia, como afirma Pedro Roque Silva, sendo falso e absurdo tal argumento, patético até.
Bem sabemos que com a abolição se irá fechar a torneira aos milhões de euros que anualmente o setor tauromáquico recebe do Estado e das autarquias locais. Mas por mais que nos procurem ridicularizar ou silenciar, estamos do lado certo da história. Já era tempo de haver coragem política para se acabar com esta barbaridade de uma vez por todas!
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