Opinião

Em vez de árvores, temos ferro, alumínio e plástico

Agora, mais uma vez atrás dos subsídios do Estado e da União Europeia, estamos a trocar pastagens, bosques, florestas e até os sagrados montados de sobro por painéis solares, como acontece em grandes áreas verdes do Ribatejo, Alentejo e Algarve

Vem este título a propósito da nova febre dos painéis solares espalhados pelo país. Primeiro, começámos a encher as nossas colinas, deformando a paisagem com as pás gigantes das eólicas, muitas delas, entretanto, já abandonadas e transformadas em ferro velho poluente, como acontece nalgumas zonas a Oeste de Lisboa, na Serra de Montemuro ou no Alto Minho.

Agora, mais uma vez atrás dos subsídios do Estado e da União Europeia, estamos a trocar pastagens, bosques, florestas e até os sagrados montados de sobro, por painéis solares, como acontece em grandes áreas verdes do Ribatejo, Alentejo e Algarve.

Ou seja, trocamos terra arável, plantas, que produzem oxigénio e reduzem o aquecimento do planeta, por ferro, alumínio e plásticos. E o mais grave é que isso seja levado a cabo com a autorização de um Governo que se diz amigo do ambiente e quando sabemos que para produzir eletricidade pela via solar, com algum impacto no consumo do país, teríamos de cobrir de painéis todo o território nacional.

É verdade que os recursos naturais não são infinitos, nem facilmente acessíveis e muito menos gratuitos ou igualmente à disposição todos. É também verdade que muitos têm procurado perspetivar e antecipar o modo como os recursos do nosso planeta se podem vir a esgotar, sobretudo, após a entrada da China e outros países emergentes nos mercados internacionais.

Mas não podemos, numa onda catastrofista, onde se fala permanentemente em extinção do planeta, na última oportunidade para a Humanidade, no fim da Civilização, correr o risco de hipotecar o futuro das pessoas.

Ora a União Europeia ao aprovar uma Lei do Clima e o anunciado choque legislativo designado por FiT for 55, a que se junta agora a nova Lei de Recuperação da Natureza, também alimenta esta onda de religiosidade ambiental e constitui-se como vanguarda da transição climática e energética.

Só que a mesma União Europeia, em nome desse vanguardismo, não pode esquecer os europeus concretos, nem o novo contexto geopolítico e geoeconómico global, onde uma ordem cada vez mais poliárquica pretende dominar, a seu favor, a corrida aos recursos para alimentar 8 mil milhões de humanos.

Mais, a prossecução desta agenda, por via compulsiva e regulatória, para além dos custos económicos e sociais associados e ainda imprevisíveis, não pode olvidar que a Europa não é o local onde se encontrem em abundância os recursos e as novas matérias-primas usadas para garantir o salto tecnológico vanguardista para as energias verdes atualmente em discussão.

Não sou contra as energias “alternativas” aos hidrocarbonetos. Não sou contra a instalação de painéis solares, desde que em zonas de grande exposição solar e com o solo desertificado. Não sou contra o uso doméstico ou industrial da energia solar, produzida para autoconsumo utilizando estruturas urbanas já existentes.

Mas sou frontalmente contra as grandes instalações que estão a polvilhar o nosso território, destruindo o seu coberto florestal, apenas porque há dinheiro público para gastar em nome de uma famigerada transição energética e, ao mesmo tempo, por essa via alavancar grandes operações de fundos de investimento e de bancos que, desse modo, se dizem financeiramente verdes (greenwashing).

Obviamente que o nosso país não deve ficar atrás na proteção do meio ambiente, na defesa de um clima mais estável, na garantia de um planeta onde continue a existir a natural biodiversidade e tal desiderato implica o uso de energias renováveis, cada vez mais limpas, incluindo a energia nuclear.

Porém, tal caminho não pode ser alcançado a qualquer preço como, infelizmente, parece estar a acontecer por todo lado, no que diz respeito aos painéis fotovoltaicos. Será fundamental que, também neste domínio, reine o bom senso e o gradualismo procurando garantir o justo equilíbrio entre o Homem e a Natureza.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate