O privilégio de ter um líder como o Papa Francisco, liberto das amarras ultraconservadoras que há séculos fazem a Igreja andar sempre atrasada em relação ao ar do tempo, não aproveita a muitos católicos.
Mesmo sabendo que este Papa é falível, como todos os homens e mulheres, bastaram 24 horas da sua estadia em Portugal para perceber que ele é um líder que serve exemplarmente a sua Igreja e aproveita até a quem é de outra religião, agnóstico ou mesmo ateu.
No tempo que dura um dia, Francisco lembrou a hierarquia dos católicos portugueses a vergonha em que colocaram a Igreja, não apenas pelos crimes cometidos contra jovens e crianças abusadas sexualmente mas também por não terem sabido acolher as vítimas, ouvi-las e pedir-lhes perdão.
Lembrou aos jovens que acedem ao ensino superior que, como católicos, não devem utilizar esse privilégio para perpetuar e acentuar as desigualdades, antes devem utilizar todo o saber acumulado para as combater.
Desafiou os políticos a investirem menos na guerra e mais na paz.
Deu-nos a todos uma lição de vida e, no entanto, muitos dos que se dizem católicos ouvem o Papa e o que ele diz entra-lhes por um ouvido e sai pelo outro. Sendo que a voz de Francisco é clara e as suas palavras fáceis de entender, deve lembrar-se a esta gente que orelhas de burro não chegam ao céu.
A festa é linda, sem dúvida. Vi milhares, largos milhares, de jovens felizes pelo encontro que os revela do tamanho do mundo. Pela diversidade, pela vontade de se afirmarem crentes num tempo em que é fácil perder a fé. Pela energia que transportam para fazer diferente e fazer melhor.
Sendo agnóstico, não sou capaz de perceber, ainda assim, quem resuma tudo a uma questão de fé. É o Papa Francisco que os avisa para terem cuidado e não transformarem tudo em ideologia. Mas quando se ouve, como se ouviu na SIC, um peregrino dizer que foram as crianças que se puseram a jeito para serem abusadas por padres, quando se sabe que fanáticos religiosos invadindo uma igreja para que católicos LGBT não pudessem ter a sua missa ou quando se vê peregrinos tentar expulsar do recinto uma pessoa que transporta uma bandeira trans, perde-se a fé no ser humano. Nestes seres humanos, pelo menos.
Perdoa-lhes, Francisco.
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