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Opinião

A defesa da JMJ contra a má-fé

Então a mistura cosmopolita de povos e o ambientalismo já não prestam se estivermos a falar de um evento católico? Então temos milhares de miúdos voluntários a organizar um evento desta escala, mostrando que a nossa juventude pode ser mobilizada para fins cívicos, mas os jornalistas e comentadores só falam da birrinha do Bordalo, o artista que tem feito carreira precisamente através do ajuste direto? Então o ajuste direto só é bom quando beneficia os artistas da moda?

A má-fé contra a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) atingiu um nível demasiado alto no meio mediático e jornalístico. Há demasiada gente que quer transformar a JMJ no equivalente católico da TAP socialista. Aliás, há gente que grita mais contra os 160 milhões da JMJ do que contra os 3.200 milhões que o Governo enterrou na TAP. Além disso, estes cínicos não querem perceber o óbvio: esta obra não foi feita apenas para esta semana - isso, sim, seria ridículo. Sucede que esta obra é uma das grandes obras que Lisboa conheceu no último meio século, pois abre em definitivo a margem norte do Tejo; liga finalmente toda esta margem, desde Belém até Santa Iria num enorme cordão para pessoas e bicicletas.

Por outro lado, devolve por inteiro dois rios aos lisboetas e às pessoas de Loures e Vila Franca: o Tejo, claro, mas também o Trancão. O Trancão, minha gente! Esta obra acaba de vez com o estigma do Trancão, que, há apenas 30 anos, ainda era um esgoto a céu aberto, provavelmente o rio mais poluído da Europa. Portanto, quer do ponto de vista urbanístico, quer do ponto de vista ambiental, esta é uma das obras estruturantes da Grande Lisboa, ponto. Fingir que não é assim demonstra apenas má-fé, algo que a “Lesboa” do jornalismo e do comentário tem em barda.

Além de representar um avanço óbvio no urbanismo – liga Lisboa a Loures - e na consciência ambiental – devolve dois rios às pessoas -, esta obra será palco do maior encontro cosmopolita do mundo. Então a mistura cosmopolita de povos e o ambientalismo já não prestam se estivermos a falar de um evento católico? Ide-vos lixar, pá.

Temos milhares de miúdos voluntários a organizar um evento desta escala, mostrando que a nossa juventude pode ser mobilizada para fins cívicos, mas os jornalistas e comentadores só falam da birrinha do Bordalo, o artista que tem feito carreira precisamente através do ajuste direto? Então o ajuste direto só é bom quando beneficia os artistas da moda? Esta é uma demonstração, mais uma, do sempiterno cinismo da bolha lisboeta, que não vê o que está para lá das redações e estúdios de tv, mesmo quando estamos a falar da Bobadela, que fica logo à saída de Lisboa.

Porque no final do dia a questão é só esta: se estivéssemos a falar da requalificação do Parque Eduardo VII, não haveria polémica. Como se trata de requalificar o Trancão e a Bobadela, onde vivem os chungosos suburbanos, os meninos de Lisboa não gostam. Fizeram o mesmo em relação à Expo98, porque na época aquela área oriental não era de facto Lisboa, pelo menos não era uma Lisboa frequentável pelos meninos do Gambrinus e do Frágil. Estes meninos só perceberão o que aqui se fez quando os festivais de verão da moda passarem a usar aquele parque urbano de Sacavém e Bobadela junto à ponte e junto ao estuário mais belo da Europa. Não há espaço como aquele para concertos. Não há.

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