Opinião

Erdogan virou a mesa…para o lado certo

Erdogan virou a mesa…para o lado certo

Duarte Marques

Ex-deputado do PSD

Ao levantar o veto à adesão da Suécia, o Presidente turco volta a virar o jogo político e a revelar que é capaz de surpreender a comunidade internacional. A Rússia parece cada vez mais isolada e até a Hungria promete apressar a adesão da Suécia. Se as portas parecem escancaradas para a futura adesão da Ucrânia, os acordos secretos agora feitos também podem significar que não será bem assim

O recém-eleito Presidente turco é capaz do pior e do melhor, de surpreender pela positiva e pela negativa, tanto defende o legado de Ataturk como faz precisamente o inverso. Erdogan não é o Bismarck dos tempos modernos, mas prova que os seus princípios são claramente de gelatina e que qualquer passo ou movimento encontra justificação na sua necessidade mais premente.

Ao levantar o veto à adesão da Suécia à Aliança Atlântica, a Turquia permite um passo determinante no alargamento estratégico da mais antiga aliança de segurança numa região fronteira com a Rússia. Este passo é crucial e pelo que percebemos também a Hungria (que nunca de facto ameaçou vetar) vai enviar de imediato o protocolo de ratificação para o seu Parlamento. Depois da Finlândia, em março deste ano, segue-se agora a Suécia - e ficam as portas escancaradas para a adesão da Ucrânia.

Resta saber o que terá negociado o Presidente turco com os restantes parceiros ou com alguns em particular, como os Estados Unidos da América. Muitos falam de fornecimento de equipamento militar, mas acredito que também vários acordos comerciais possam ter sido prometidos e, talvez ainda mais importante, estabelecidos compromissos, em particular da Suécia, sobre o fim da proteção a alegados terroristas curdos a quem foi dado o estatuto de refugiado.

O movimento da Turquia é de tal forma contundente que até a escolta aos cargueiros ucranianos que exportam matérias-primas foi garantido, mesmo que a Rússia não volte ao acordo dos cereais negociado por António Guterres e pela ONU. Erdogan conseguiu surpreender tudo e todos para ficar do lado certo da História, pelo menos por alguns meses.

Mas ainda sobre a NATO importa lembrar que apesar de toda boa vontade e quase alargado consenso sobre a adesão da Ucrânia tal facto é para já impossível pois os estatutos da Aliança Atlântica impedem a adesão de países em conflito.

Mas a verdade é que esta pretensão da Ucrânia parece cada vez mais verosímil, a não ser que o futuro nos possa trazer algumas surpresas desagradáveis. Uma delas é que num futuro acordo de paz com a Rússia para terminar esta invasão, o impedimento da adesão da Ucrânia à NATO seja uma exigência, e a segunda é que o acordo para o levantar do veto à Suécia tenha como contrapartida o veto à adesão da Ucrânia. Só mais tarde saberemos.

Os próximos tempos são fundamentais e rapidamente é necessário encontrar uma solução para o fim desta guerra. Vivemos momentos históricos para a comunidade internacional e a cada dia que passa é mais evidente que a invasão da Ucrânia é um crime sem justificação que terá como consequência um rearranjo profundo do sistema de alianças políticas internacionais onde a Rússia surge como principal prejudicado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate