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Opinião

Não fui eu, foi o heteropatriarcado

Boaventura não foi o único acusado. Bruno Sena Martins nasceu em 1978

Quando o actor brasileiro José Mayer foi acusado de assédio sexual pela figurinista Su Tonani, em 2017, emitiu um comunicado em que lamentava: “Sou fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas.” Esta semana, o sociólogo português Boaventura Sousa Santos reagiu às acusações de assédio sexual de que também é alvo escrevendo: “Nascido em 1940, sou de uma geração em que comportamentos inapropriados, se não mesmo machistas, quer se trate da convivência ou da linguagem, eram aceites pela sociedade.” Ou seja, Boaventura e Mayer, que nasceu em 1949, são vítimas da mesma geração malvada. A década de 40 ainda não se pronunciou, e seria importante ouvir a sua versão, mas começam a ser demasiados os testemunhos acusatórios. Nascer nos anos 40 condena os homens ao abuso. Boaventura termina o seu texto dizendo que vai “ser cada vez mais vigilante”, e dar “especial atenção ao heteropatriarcado”. É um caso curioso porque revela que é possível nascer durante o fascismo e ser antifascista, crescer em capitalismo e ser anticapitalista, testemunhar o colonialismo e ser anticolonialista — mas o heteropatriarcado entranha-se na personalidade com muito mais teimosia. Talvez tenha a ver com o facto de, entre todas as formas de opressão, ser a que mais contribui para satisfazer a libido do abusador. Se o colonialismo promovesse ambientes que propiciam o convívio íntimo com jovens alunas de mestrado talvez fosse preciso vigiá-lo também.

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