O presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Vítor Marques, afirma num artigo de opinião recentemente publicado pelo Expresso que o seu concelho não quer ser beneficiado com um novo equipamento hospitalar, antes exige a manutenção do hospital existente. Porém, ao ler ponto a ponto os argumentos para a manutenção deste equipamento nas Caldas da Rainha, facilmente percebemos que a tese da “manutenção” é na verdade uma forma de puxar o novo Hospital do Oeste para si, caindo precisamente naquilo que diz inicialmente não querer. O meu caro colega autarca deverá ter em conta que:
1. O que o estudo sobre a localização do novo Hospital do Oeste indica não é uma deslocalização para sul de um equipamento hospitalar, mas sim o local ideal para a construção de um novo hospital público para o Oeste. Unidades de saúde privadas não substituem um SNS que sirva todos os cidadãos.
2. Caldas da Rainha possui oferta de cuidados hospitalares e deve, tal como Torres Vedras, defender a manutenção de serviços no seu atual hospital. Nada disso coloca em causa a necessidade de construir um hospital que responda a toda a região Oeste e não apenas a um concelho.
3. O despacho do Ministério da Saúde que cria o Grupo de Trabalho para a definição da localização e valências do novo Hospital tem o estudo encomendado pela OesteCIM como referência-base para a escolha da sua localização. O concelho de Mafra é parcialmente incluído neste estudo porque, efetivamente, a população de Mafra recorre ao Centro Hospitalar do Oeste.
4. Qualquer um dos concelhos atravessados pela A8 e pela Linha do Oeste poderia argumentar com a disponibilidade de terreno junto a um nó de autoestrada. Mas convenhamos que não se escolhe o local de um hospital numa espécie de leilão em que cada município oferece o seu melhor terreno.
5. A luta por cuidados de saúde para a população não pode passar pelo jogo de números da sazonalidade. O que acontece é que enquanto Alcobaça, Caldas da Rainha e Nazaré perdem população, a sul há um crescimento demográfico com tendência para continuar, tal como acontece aliás na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Por isso mesmo, os hospitais da AML estão e estarão cada vez mais sobrelotados e não são uma alternativa para os oestinos.
6. A existência de hospitais em Leiria, Santarém e Loures releva pouco para a definição da localização de um Hospital no Oeste. A única forma de garantir cuidados de saúde uniformemente distribuídos no Oeste é ter em conta a distância e a demografia desta região, que o novo Hospital servirá.
7. A medicina evoluiu profundamente e a localização dos equipamentos hospitalares dissociou-se de fatores naturais como a qualidade das águas termais ou os “bons ares” da montanha. O facto de Caldas da Rainha ter tido origem num hospital nada diz sobre as necessidades da região Oeste no século XXI. Seria como Atouguia da Baleia reclamar para si um porto comercial ou Torres Vedras um quartel do exército com base no legado histórico…
8. Se, por um lado, o potencial de desenvolvimento de uma cidade ou de um concelho não se mede pela quantidade de serviços públicos nele existente, por outro os equipamentos devem acompanhar o desenvolvimento dos lugares. Se Caldas da Rainha tem perdido serviços de justiça ao longo dos anos isso não devia motivar Vítor Marques a injustiçar toda uma região!
9. O argumento da proximidade da Linha Ferroviária é válido “em toda a linha” e não apenas em Caldas da Rainha.
10. Não se trata de abrir uma clivagem Norte e Sul no Oeste, mas de encontrar um ponto realmente central para a população de toda a região. O estudo está feito, o grupo de trabalho foi criado e o prazo está definido. Aguardemos que o Ministério da Saúde cumpra.
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