Atualmente, sabemos que a infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV) atinge cerca de 75 a 80% das mulheres e homens sexualmente ativos, ao longo da sua vida. Os jovens adultos, que se encontram nos primeiros anos após o início da atividade sexual, são os que apresentam uma maior incidência de novos casos.
Apesar de ser uma infeção sexualmente transmissível (através do sexo vaginal, anal ou oral) bastante contagiosa, na maioria das vezes, não apresenta sintomas fáceis de detetar numa primeira fase, podendo ter até uma regressão espontânea. Ainda assim, sinais e/ou sintomas como comichão, ardor ou dor durante as relações sexuais, corrimento anormal, ou hemorragias fora do período menstrual devem ser mantidos sob vigilância, para que a infeção não evolua para patologias mais graves.
Nos casos em que o vírus permanece ativo, poderá levar ao desenvolvimento de doenças genitais, como verrugas ou condilomas, ou até mesmo ao desenvolvimento de vários tipos de cancro, como do ânus, da orofaringe, do pénis e do colo do útero.
Um facto interessante e sobre o qual devemos debruçar a nossa atenção é que o cancro do colo do útero manifesta-se, na grande maioria dos casos após vários anos de infeção persistente de HPV. A nível mundial, falamos do 4.º tipo de cancro mais frequente nas mulheres, representando a segunda causa de morte em mulheres com menos de 44 anos. Números alarmantes, mas que, hoje em dia, podem ser facilmente revertidos, uma vez que através da vacinação contra o HPV é-nos possível prevenir em larga escala este tipo de cancro.
A vacina confere uma proteção estimada em 90% para o cancro do colo do útero. Como os números mostram, a eliminação do cancro do colo do útero é uma realidade que pode ser perspetivada para um futuro mais ou menos próximo, dependendo da capacidade de cada país, para implementar planos de prevenção primária (vacinação) e secundária (por exemplo com rastreios sistematizados).
Em 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a Estratégia Global para Eliminar o Cancro do Colo do Útero, que prevê três etapas distintas: vacinação, rastreio e tratamento. Apenas com uma implementação bem sucedida desta estratégia é que será possível reduzir mais de 40% dos novos casos diagnosticados e cinco milhões de mortes relacionadas à doença até 2050, tal como a OMS prevê que aconteça.
Este plano da OMS representa um marco histórico, que nos deixa muito entusiasmados e esperançosos para o futuro, uma vez que, pela primeira vez, 194 países encontram-se comprometidos em eliminar a patologia.
Os dados mostram-nos que, apenas em Portugal, cerca de 90% das mulheres até aos 27 anos já estão vacinadas contra o HPV, caminhando assim em direção à erradicação do cancro do colo do útero a nível nacional.
Não esqueçamos que a vacina contra do HPV faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV) desde 2008 e contempla todas as raparigas de dez anos e, a partir de outubro de 2020, os rapazes nascidos a partir de 2009. O nosso país foi um dos primeiros a nível mundial, a incluir esta vacina no seu PNV, tendo já registado ganhos significativos para saúde dos portugueses.
Apesar de não estarem contempladas no PNV, a Agência Europeia do Medicamento (EMEA), assim como a Sociedade Portuguesa de Ginecologia recomendam esta vacina a todas as mulheres até aos 45 anos, uma vez que os últimos ensaios clínicos conhecidos comprovam a sua eficácia na imunidade destas mulheres.
Em suma, o cancro do colo do útero acaba por ser o único tipo de cancro que é possível de prevenir através da vacinação contra o vírus, que o faz desencadear (HPV). Assim sendo, devemos continuar a caminhar na direção da erradicação e nada melhor do que esclarecermos doentes e sociedade, para as ferramentas de prevenção que têm ao seu dispor.
* Paula Martins de Jesus é diretora médica da farmacêutica MSD Portugal