O Natal deixa-nos com um presente nas mãos: confia-nos um verbo para todos os dias do ano. E esse verbo é nascer
Começo pedindo palavras à escritora Nélida Piñon, essa extraordinária narradora da nossa condição. Em “Livro das Horas” ela escreveu: “Cada qual narra a história da sua solidão. A que se está condenado mesmo quando cercado de familiares, tribos, séquitos, leis universais.” O Natal representa isso para nós. Talvez sedentos, talvez disfarçando um embaraço que nos mói, sentindo-nos incrivelmente sós, mesmo se acompanhados por pessoas, comidas e símbolos, aproximamo-nos da manjedoura e perguntamos: “Porque estamos aqui?”, “Como interseta a nossa vida o mistério que aqui se conta?”, “Que podemos secretamente esperar de tudo isto?” Porventura a única razão válida para estarmos aqui é uma que nos custa reconhecer: precisamos de um salvador. Cada um de nós precisa de ser salvo dessa solidão fundamental, ontológica e irremovível de que falava Nélida. A vida necessita de resgate. Sem isso a nossa travessia seria apenas inacabamento, uma espécie de ferida em aberto, uma pergunta sem resposta. Seria como se tivéssemos insistido junto de uma porta que continuou fechada ou de uma noite que não chegou a conhecer a metamorfose auroral.
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