9 dezembro 2022 0:08
Talvez aqui Manoel de Oliveira ainda se sentisse perante o cinema como diante de qualquer coisa de epífano e inacessível. Uma coisa cuja aproximação não se cumpriria sem disputa
9 dezembro 2022 0:08
A primeira infância retratada em “Aniki Bóbó” é, antes de tudo, a do seu realizador. Trata-se da primeira longa-metragem de ficção de Manoel de Oliveira. O filme estreou-se a 18 de dezembro de 1942, no Cinema Éden, em Lisboa, mas havia sido rodado dois anos antes no Porto e em Gaia. Oliveira tinha, então, pouco mais de 30 anos. No genérico do filme ainda aparece, por exemplo, o seu nome escrito como Manuel. Era, a muitos títulos, uma estação embrionária, aquela. Podemos imaginar que o candor que transparece na rivalidade de Carlitos e Eduardo pelo sorriso de Teresinha espelhe, de certa maneira, a relação (ou o desejo de relação) de Oliveira com o cinema: também no caso dele um amor decisivo camuflado ainda de namorico, uma aventura que se diria naquele momento mais pueril que perturbadora, mais mágica que complexa e definitiva, como depois aos olhos de todos se tornaria claro. Talvez como Carlitos, caminhando de madrugada sobre os instáveis telhados, ele ainda se sentisse perante o cinema como diante de qualquer coisa de epífano e inacessível. Uma coisa cuja aproximação não se cumpriria sem disputa. Mas temos de reconhecer que não estamos simplesmente em presença de um daqueles esboços indecifráveis de juventude. Em “Aniki Bóbó” o cinema de Oliveira que conheceríamos depois — esse cinema que insiste em transmitir “uma visão da vida” — é já completamente manifesto. Sublinharia três aspetos.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.